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Vivendo o despertar

Atualizado dia 07/12/2014 20:23:57 em Espiritualidade
por Rodrigo Durante


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Existem situações que a vida não nos prepara, ela nos apresenta de uma vez, nos joga na cara. Rouba-nos a esperança de que tudo poderia ter sido diferente. A vida não é boa para todos, algumas pessoas parecem não ter mais o direito de viver na ilusão.

Bons tempos, quando nossa dose de sofrimento ainda não tinha se esgotado, quando tudo ficava bem ao emagrecermos alguns quilos, comprarmos uma roupa nova, fazermos uma viagem ou encontrarmos a próxima alma gêmea. As dificuldades e tristezas entre duas felicidades eram apenas impulsos para novos desejos e, assim, a vida seguia seu curso, sem muitos riscos, numa sequência de sucessos e insucessos administráveis ou, pelo menos, toleráveis.

Digo que o despertar é ao mesmo tempo um fardo e uma bênção, está aí o porquê. Enquanto a iluminação que é a realização deste despertar não chega, nossos olhos não nos pouparão da verdade, daquilo que escondíamos com aparências, metas, conquistas etc.. A vida nos descascará neste processo até chegarmos no mais íntimo de nossa essência, até compreendermos que a vida é muito maior do que o sonho rebelde de realização do personagem psicológico que insistimos em manter no centro do palco de nossas vidas.

A Presença sempre esteve conosco, nunca nos separamos de Deus. Mas Deus não é uma imagem, não é uma construção mental. É anterior a qualquer linguagem, por isso não há como descrevê-Lo. Porém,podemos senti-Lo, assim que descondicionarmos nossos canais de percepção viciados em suprir carências e nos entregarmos à Sua vontade, que é o momento presente, o verdadeiro propósito de nossa existência.

No entanto, trazemos conosco uma carga emocional muito grande que precisa ser limpa. Esta carga é o que nos separa da Presença e bloqueia as coisas boas de chegarem até nós, tirando-nos da paz e tranquilidade da nossa Essência Divina. Por isso, devemos agradecer por cada crise, cada choque de realidade que a vida nos traz, pois não há outro caminho senão limpar tudo isso.

Quando reparamos nos pontos negativos de nossa vida, na verdade, estamos utilizando aspectos desta carga emocional para justificar nossa situação atual. Utilizamos uma história que “aconteceu com a gente” para não ver que o que vivemos é apenas reflexo do que trazemos dentro de nós há muitas existências. Lembrando que não são os fatos que são ruins, mas a maneira como os interpretamos e os vivenciamos, ao fazer isso estamos na verdade nos programando, estamos dizendo como somos e como a vida é, criando mais camadas de ilusão para serem limpas.

Ao mesmo tempo que ainda temos os mesmos mecanismos ilusórios de buscar a felicidade, já estamos atuando com um coeficiente de luz muito maior do que jamais tivemos. Então, ao mesmo tempo que já somos capazes de acessar mais facilmente as frequências do nosso Ser, também revelamos toda a sombra que existe neste caminho. E quanto mais alto vamos pior nos parecem as emoções consideradas negativas, pois mais sensíveis ficamos a elas. Quanto mais perto da iluminação estamos, mais doloridas são nossas descobertas interiores, pois as últimas partes trazidas à luz são as que mais escondemos de nós mesmos. Como ainda estamos utilizando todo este pacote emocional como nosso banco de dados para interpretar a vida (inconscientemente analisamos e julgamos o tempo todo), tudo nos parece ruim e dói muito mais do que precisava. Então, é uma questão de tempo e disciplina para assimilarmos todo este passado e aprender a não gerar mais bloqueios neste nível.

A primeira coisa a fazer é prestar atenção para não nos colocarmos em uma posição de vítima, isto nos enfraquece e nos tira o poder de mudar qualquer coisa em nossa vida. Algumas emoções são muito sorrateiras, enganam-nos muito facilmente... qualquer culpa ou responsabilidade que atribuímos aos outros, à vida ou aos fatos pode ser considerado um vitimismo. Mesmo um simples questionamento do "porque aquilo foi acontecer justo comigo" já nos coloca em uma posição desprivilegiada. Ao dizermos que algo está nos causando tal coisa, estamos dizendo que aquilo é mais forte que a gente, o que não é verdade.

A segunda é aprendermos a amar toda a nossa sombra, todas estas emoções dolorosas que criamos são partes nossa e quanto mais as rejeitamos mais sofremos. Elas também fazem parte da nossa experiência e foram geradas por nós, não há como serem descartadas. Isso seria como amputar uma perna porque não gostamos de sua aparência. Temos que aprender a nos amar e nos aceitar do jeito que somos, inteirinhos! O Espírito, Deus, nossa Essência Divina ou qualquer outro nome que seja é Uno, é abrangente, não deixa nada de fora. A Unidade engloba tudo, é impossível vivermos em Unidade se ainda estivermos rejeitando alguma parte nossa ou uma só emoção se quer. Esta resistência é o que causa o sofrimento. Quando não há resistência, sentimos o que está lá no momento, agradecemos e deixamos fluir. A vida é fluxo, é impermanência.

Então, o aprendizado é notar que a emoção dolorosa está lá e amá-la, agradecer sua existência, focar no coração e respirar. Enquanto respiramos, reparamos onde esta emoção está em nosso corpo, sentimos ela se manifestando. A respiração é a própria presença de Deus no físico, enquanto estamos centrados na respiração estamos presentes. Aos poucos a emoção vai se dissolvendo, pois ao ser aceita já cumpriu o seu papel. A experiência foi validada, ela passa e a vida continua.

Assim, aprendemos a não temer as emoções e o que quer que a vida queira nos trazer. A paz que buscamos não está na zona de conforto, na vida perfeita que nosso ego sonha. A paz está em saber lidar com qualquer coisa que a vida tenha a nos oferecer. A paz está na Presença e uma vez que nos sintonizamos com Ela tudo pode ser visto e vivenciado com mais amor e clareza.

Ainda assim, a limpeza é implacável e contínua... após a aceitação de um conjunto de emoções que afloraram, começamos a notar os aspectos que as geraram, as partes feridas de nossa criança por exemplo. As emoções que vamos liberando são chamados destas partes reprimidas e rejeitadas. O processo é o mesmo, amar e respirar. Assim vamos criando o hábito de sentir o que estiver aí para sentir sem resistência, permitindo que tudo cumpra o seu papel e deixando fluir. Seguindo o princípio fundamental de não ceder ao vitimismo, paramos de contar a nós mesmos a mesma historinha triste de nossas vidas, o que já vai diminuir bastante a criação de mais carga emocional para ser limpa. Quando utilizamos uma ideia para justificar uma emoção nós a empoderamos e permitimos que ela crie raízes, cristalizando assim o bloqueio.

Neste caminho de auto-observação plena, descobriremos como construímos nossa personalidade, tudo o que escondemos de nós mesmos e não queremos lidar, os mecanismos que criamos para viver na ilusão. Aprenderemos também como lidar com estas emoções reprimidas e a abraçar completamente nossa sombra. Nosso caminho será como escrever um manual para nossa própria libertação, para nos alinharmos com nossa essência e vivermos a vida que pedimos a Deus.

É importante estarmos sempre alimentando nossa fé para não nos intimidarmos com o volume de coisas guardadas que há para sentir e aspectos a integrar. Uma vez aprendido isso, o processo se tornará cada vez mais fluido e mais facilmente nos colocaremos na Presença e sentiremos gratidão verdadeira pela experiência, amando aquela parte nossa que está ali pedindo nossa atenção e permitindo que tudo flua em perfeição Divina.

Quando estivermos presentes, quando cada um estiver se amando e aceitando integralmente, tudo fluirá em harmonia. Nós reconheceremos Deus em tudo, é esse o amor que buscamos. Não precisamos nos forçar a amar o aspecto em que cada um se apresenta, mas iremos além e reconheceremos a Essência Divina que tudo anima.

Nós somos feitos do mais puro Amor Divino. Às vezes passamos a vida tentando entender e reproduzir este amor com a mente, mas isso não é amor. Curando as feridas e as ilusões o que sobra, sim, é amor. O amor não é como a gente imagina nem nada parecido com o que a gente sente pelo outro. O amor é a matéria-prima do universo, é dele que somos feitos. Por isso agir na Presença é agir em amor.

Ao simplesmente querer algo da vida e do outro, já fugimos do amor. A mente entende, analisa e julga de acordo com suas crenças, parâmetros e programações, ainda que sentimos algo que chamamos de amor, é uma falsificação do verdadeiro amor. Enquanto a iluminação não acontece, tudo o que ocorre em nossa vida, todos os relacionamentos e situações têm o único propósito de nos aproximar do despertar. Tudo neste nível nos levará à frustração e ao reconhecimento das limitações do nosso personagem e desalinhamento com nossa Essência Divina.

Enquanto estamos na ilusão, não somos capazes de enxergar a essência do outro. Todos os nossos relacionamentos, então, não serão com o outro, mas com a projeção de uma imagem do outro que construímos em nossa mente, uma imagem de uma solução perfeita baseada em nossas feridas e carências, nossos medos e expectativas, experiências passadas e sonhos de um futuro seguro e cheio de distrações. Por não amarmos a nós mesmos, precisamos projetar fora aquilo que não enxergamos em nós, para só assim conseguirmos amar e integrar estes aspectos. A dependência do outro para este processo é tanta que para mantê-lo ao nosso lado, aprenderemos a aceitar seus defeitos e limitações, inconscientes de que, na verdade, são os nossos próprios defeitos e limitações que estamos enxergando nele. Neste relacionamento, sem querer, obrigamos o outro a cumprir o papel de realizador de nossos sonhos e inconsciente e inevitavelmente o relacionamento será cheio de posse, carência e medos envolvidos; um se ampara e se abastece no outro, não existe abertura e entrega verdadeira, aceitação incondicional, liberdade sem medo da perda e, principalmente, paz.

No fundo não existe o outro, não existe mãe, não existe marido, filhos, casa, chefe, governo, problemas etc.. Tudo é Deus nos refletindo para nós mesmos, todas as nossas experiências e interpretações são o perfeito reflexo do que somos. Aceitem essa informação e vejam o que acontece, como se sentem. Sintam como essa informação de que tudo é Deus nos leva pra dentro, faz-nos assumir a responsabilidade por tudo o que vemos no outro. Faz-nos tirar do outro a responsabilidade de satisfação das exigências do nosso ego para estarmos bem sem que precisemos olhar para nossa sombra, para não sairmos da nossa zona de conforto e corrermos o risco de enxergarmos aquilo que não queremos ver: o vazio interior da falta de conexão, as limitações da falta de confiança, o desespero da falta de fé, a raiva que encobrimos com a culpa, a vergonha de admitirmos o personagem fraudulento que criamos por pura falta de amor próprio e coragem de sermos quem a gente verdadeiramente é.

Da mesma forma, quando aparece alguém que nos incomoda, logo colocamos a culpa nele, julgamos e dizemos que algo está errado com o outro. Nosso ego faz isso para nos poupar de sofrer com nossas próprias feridas. Quando alguém ou situação cutuca uma energia que está lá dentro escondida, imediatamente queremos nos livrar disso, nosso ego não pode correr o risco de revelar as raízes e máscaras dos personagens que incorporamos. É sofrimento demais, o ego é nosso amigo e precisa nos proteger. E se alguém descobrir que somos uma fraude, que aquilo que gostaríamos de ser e a imagem que queremos passar são apenas máscaras para nossas partes rejeitadas? E se descobrirem que temos medos, raivas, culpas, que não nos achamos lindos e bem-sucedidos, que sentimos tristezas, que temos um tesão enorme e vontade de fazer loucuras bizarras na cama, que peidamos fedido e falamos palavrão? O que vai ser da nossa imagem? Ninguém mais vai gostar da gente... é isso que o ego pensa e sente, é isso que nossa criança ferida e reprimida sente. Desde pequenos, somos condicionados a agradar o outro, só assim recebíamos como recompensa a aceitação e o amor, que de incondicional só leva o nome.

Por isso, o amor-próprio e o reconhecimento do Ser Divino que somos é importante, para desconstruir todas estas imagens e programações ilusórias, amando-nos e aceitando a cada parte que vai se revelando, reconhecendo a perfeição que há em toda a Criação. Não há nada errado com a gente, não precisamos de cura. Precisamos apenas nos aceitar completamente, nos integrar unificando todas as nossas partes e aspectos, só isso.

O amor verdadeiro se manifesta no estado de pura aceitação e entrega ao momento presente e de nenhuma outra forma. Aceitação de si mesmo em primeiro lugar, de nossa luz e de nossa sombra. Ao aceitar sem julgar, não bloqueamos o amor. Ao nos aceitarmos integralmente, permitimos que a vida flua sem expectativas ilusórias, sem necessidade de garantirmos resultados preferenciais e de nos prendermos a situações que julgamos boas, sem medo das mudanças que o amanhã nos trará. Só assim, estaremos abertos para que o universo nos traga o que estiver em perfeito alinhamento com o nosso propósito último de servir a Deus e incorporar a nossa função ascensionada na Criação, a realização plena e a viver o paraíso prometido.

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