CONVERSAS SOBRE O FEMININO
Atualizado dia 6/10/2012 4:42:29 PM em Psicologiapor Ana Paula de Jesus
Porém, encontramos em Nietzsche, aberturas para pensar outras formas de sociabilidade, quando observamos o feminino, não pelas lentes do sujeito que pensa sobre a mulher, a partir da tese que equivale à razão masculina como parâmetro de tal análise. Essa outra forma de compreensão, abre espaços para acolher o feminino, sem idéias pré-determinadas, pois, do contrário, corre-se o risco de universalizar um conceito sobre o que é a condição feminina. E, a partir daí, em pouco tempo, cria-se categorias para determinar o que é certo e errado em tal identidade. Se o feminino por algum motivo foi excluído da sociedade ocidental, resgatá-lo significa acolher e vivenciar essa outra forma de ser. Sem ter uma idéia elaborada sobre o que isso significa.
Ao tomar como referência algumas obras de Monique David-Ménard, Monique Schneider e Joel Birman, autores que há muito tempo se debruçam sobre o tema da feminilidade, é possível notar um delinear de uma outra compreensão para se pensar a diferença entre masculino e feminino - segundo a qual será questionada a hegemonia da identidade masculina, e deslinda-se a proposta de uma leitura aberta a alteridade, no sentido de acolher o outro, nessa caso o feminino, como ele e apresenta, sem uma pré-idéia fixa que conceitua tal condição.
Segundo Isabel Fortes, esse outro modo de ver acolhe a feminilidade que, por sua vez, transforma a relação entre os sexos. Tal realidade, conforme a autora, já está sendo delineada. O cenário que possibilita esta mudança é resumido em alguns pontos principais, que podem ser observados pelo leitor: a crise da família nuclear, a entrada da mulher no mercado de trabalho e assumindo cada vez mais, cargos de lideranças, a separação da sexualidade da reprodução e a política de visibilidade da homossexualidade.
Enfim, o feminino por muito tempo ficou como o Outro da civilização ocidental. Resgatá-lo, no sentido de acolher, inclui aceitar suas diferenças e observar limites à identidade. Neste sentido, pode-se olhar para o feminino, como um impulso que nos possibilita pensar as diferenças, inclusive, nas relações, para aceitá-las e corrigi-las. Também evidencia que os caminhos, nas relações humanas, não estão determinados. Isso sugere um caminhar junto, relações de partilha edificadas no dia-a-dia e, principalmente, sem receitas que dizem como fazer, antes são arquitetadas no movimento da vida e formuladas de acordo com quem no processo está envolvido.