A Dança da Vida só pode ser vista do lugar que estamos.
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Autor Karina Cavalheiro Chiodi
Assunto PsicologiaAtualizado em 19/08/2011 22:17:56
Essa semana fiquei sabendo de uma apresentação de dança de uma coreógrafa renomada, que tem a fama de fazer espetáculos grandiosos, criativos e ousados. Ao pensar em todos os espetáculos que já vi dela, e o quanto eles já me mobilizaram emocionalmente, me empolguei para ver esse que estava em cartaz. Fiquei imaginando como ela poderia novamente fazer algo novo e diferenciado, pois estar sempre surpreendendo as pessoas não é uma tarefa fácil. O assento que compramos era um lugar privilegiado, no ultimo andar, mas na segunda fileira. Fiquei torcendo para que as pessoas que haviam comprado os lugares da frente, tivessem trocado de lugar ou desistido de ir ao teatro. Eu sei que isso é meio egocêntrico, mas queria muito ver cada detalhe do espetáculo. Infelizmente minhas preces não foram atendidas. Um casal sentou à minha frente. Pensei: bom pelo menos eles não são altos e nem usam chapéu. Parece que depois do casamento do príncipe, chapéu vai virar moda.
Eis que a cortina se abre. Uma árvore de madeira enorme em cima do palco. Só ai já fiquei surpresa. Foi quando percebi que eu estava dançando na minha poltrona, ia de um lado pra outro, pra cima, para baixo. Eu não conseguia enxergar o palco todo. Estava enxergando pedaços da dança por entre os abraços e beijos desse casal apaixonado que estava na minha frente. Eles estavam tão apaixonados que estavam grudados um no outro, isso me impedia de ver o palco por completo.
Casal apaixonado é lindo, mas aquilo estava me deixando de mau humor. Foi ai que comecei a pensar que fazemos isso no dia a dia. Nossa história de vida, nossas primeiras relações afetivas nos colocam sentados em determinada poltrona no "teatro da vida". Lowen diria que escolhemos nossa "poltrona" de acordo com nosso caráter psicológico, e eu concordaria com ele. Ao mesmo tempo pensei: porque mesmo tenho que ficar sentada nesse lugar? Foi aí que soou o sinal para o intervalo e as luzes acenderam. Logo percebi que havia uma poltrona vaga na frente. Não me contive, pulei pra lá e fiquei esperando todo o intervalo passar, não queria correr o risco de perder esse lugar.
Sei que é muita ansiedade, mas estava radiante de alegria de poder finalmente ver o espetáculo todo. Lá de cima dava pra ver o palco todo e os cenários gigantes e agora sem o casal na minha frente estava perfeito. Ao mesmo tempo estava tão alto que não conseguia ver os detalhes pequenos. Bom, só podemos enxergar o mundo à nossa volta da poltrona que estamos sentados. Podemos imaginar como seria se estivéssemos sentados em outro lugar, mas só imaginar. Se nos sentamos no alto conseguimos ver o palco todo, mas perdemos os detalhes, a respiração dos bailarinos.
Em outra ocasião sentei colada ao palco, para realizar um sonho de ver uma bailarina que amo de pertinho. Eu via cada detalhe de seu corpo, cada tremido, sentia a emoção que ela queria passar, sua respiração, foi super intenso e o que é melhor: não havia cenários gigantes.
Acredito que a vida seja assim: nossa história, nosso caráter, nossa família, nos colocam sentados em determinada poltrona. Podemos ficar lá a vida toda, e visualizar apenas uma parte do teatro. A consciência, as relações, terapia, estudos, amigos e até mesmo nossa família, nos ajudam a mudar de poltrona de vez em quando, mesmo tendo aquela "poltrona" reservada, temos a oportunidade de sentar em outras poltronas e visualizar o teatro de lugares diferentes ou até mesmo colocar óculos para enxergarmos melhor. Se focarmos no todo, perdemos os detalhes, e se focamos nos detalhes, não conseguimos visualizar todo o cenário. Mas a vida é interessante e ás vezes não precisamos do cenário.
Em algumas ocasiões, algumas pessoas nos tiram do sério, e ficamos enraivecidos com o ocorrido. Mas, se ao invés de julgarmos e reagirmos intempestivamente contra essas pessoas, olharmos atentamente para a poltrona que estão sentados, podemos entender o padrão empregado e inclusive sermos tomados pelo sentimento de compaixão.
Sentar na mesma poltrona sempre, faz a gente repetir infinitamente nossa história e padrão com outras pessoas. Ficamos repetindo sempre os mesmo erros com pessoas diferentes. O caminho está em elaborar nossa historia e aumentar nosso campo de visão. De vez em quando tentar se imaginar sentado na poltrona do outro ajuda e muito, mas o ideal mesmo, é que dependendo da situação, vamos com coragem procurar um lugar melhor pra sentar.
A entrada ao teatro é obrigatória, mas saborear intensamente esse espetáculo é opcional. É você que vai decidir de que forma quer ver a apresentação. Bom voyage!
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Psicóloga, Psicoterapeuta Corporal Neo-reichiana, Analista Bioenergética (em formação), Facilitadora da Dança do Ventre Terapêutica. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |