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A Interdição do Gozo

Atualizado dia 3/31/2019 7:08:11 PM em Psicologia
por João Carvalho Neto


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Vivemos em uma sociedade que se construiu altamente castradora por força de sistemas de crenças filosóficas e religiosas que interditaram o direito à satisfação, especialmente às mulheres, estimulando o martírio e o sacrifício como forma de sublimação para uma felicidade futura.

Talvez essa estrutura psicofilosófica tenha sido necessária e parte do próprio processo de amadurecimento humano, contudo, perde sua validade quando voos mais altos para a felicidade já podem ser alçados.

É interessante notar como recebo pacientes mulheres que se queixam de nunca “alcançarem” um orgasmo com seus parceiros e que se sentem tolhidas de terem prazer com seu corpo. Reflexo de conteúdos arquetípicos que foram introjetados ao longo dos séculos e que trazem uma sensação de inadequação e culpa diante do próprio prazer. E, como a energia sexual é a mesma energia de vida – a libido – essa incapacidade de viver o prazer se transfere para os demais aspectos da existência, criando constrangimentos e repressões para o alcance de toda a nossa possibilidade de agir e ser feliz.

A tendência para superar esse nível de frustração leva a pessoa a buscar sublimação em atividades religiosas, sociais, culturais, assistenciais, o que ajuda mas não resolve. Freud chegou a admitir que a sublimação seria o mecanismo de defesa mais eficiente contra a frustração, mas poucos conseguem realizá-lo com proveito. Acabam ficando níveis de energia psíquica reprimida e não liberada que, estagnadas, contaminam a personalidade com tristeza, insatisfações, ansiedades, angústias, agressividade, podendo levar ainda a diversos transtornos psicológicos.

Mesmo do ponto de vista de se preparar para uma vida melhor no pós morte baseado no sacrifício agora, essa equação não funciona. Isto porque se os aspectos negativos da repressão se estabelecerem, a mente contaminada pela insatisfação se abre para conteúdos patológicos que, instalados, permanecem na continuação da vida após a morte. Com isso quero dizer que se você não for feliz agora não será na vida espiritual. A felicidade ou infelicidade são patrimônios da alma e com ela permanecem onde ela estiver como uma demanda de continuidade ou solução.

Não defendo com isso o gozo a qualquer custo, nos moldes de um egoísmo insustentável na convivência social. Mas o gozo daquilo que se faz possível e que, muitas vezes, não nos permitimos. Ser feliz não é gozar sem limites. Ser feliz é um estado de espírito que pode estar presente até no sofrimento. Sempre digo que você pode continuar feliz mesmo chorando, desde que consiga atribuir significado ao seu sofrimento e aprender com ele.

E o não se permitir gozar pode chegar a níveis tão complexos que a autopunição cria flagelações físicas e emocionais. Arriscaria mesmo dizer que, hoje, nossa humanidade sofre mais porque neuroticamente se autoflagela do que tem problemas tão difíceis assim de serem sanados.

Imaginem se todos decidissem ser felizes e fazerem os outros felizes? Nossas dificuldades acabariam e teríamos um mundo melhor para se viver. A questão é que não decidimos – ou não permitimos – sermos felizes. Boicotamos nosso direito à felicidade com egoísmo, com guerras, com culpas, com medo, com ambições descabidas. E depois ainda responsabilizamos o outro pela nossa desdita, aumentando ainda mais as zonas de conflito e tensão que geram mais infelicidade.

O desafio está no dia a dia, na opção por sermos felizes ou não diante do inexorável caminho que se abre em nossas vidas. Dificuldades temos e ainda teremos, mas como lidamos com elas? Aproveitamos a oportunidade para nos autopunir ou usamos da felicidade que nos permitimos viver para superar e alterar o caminho? Esta pergunta todos deveríamos nos fazer. Com que ânimo enfrento minhas dificuldades? Com o pessimismo derrotista do infeliz ou com a disposição vitalizada pelo prazer?

Em um universo quântico de possibilidades, a realidade que vivemos é justamente aquela que escolhemos. O resultado da escolha pode não se manifestar de imediato, mas tem a perspectiva inevitável de se concretizar. Por isso, escolha ser feliz.

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Conteúdo desenvolvido por: João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
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