A lição do pinheiro

   

Autor Mirtes Carneiro

Os finais de semana se tornam muito agradáveis quando estamos na chácara. Em um sábado próximo passado, ao chegarmos, notamos nossa grama coberta de folhas secas, caídas do pinheiro existente no terreno ao lado.
Aborrecidos com a sujeira, começamos a limpar a grama, tarefa que tomou boa parte de nossa manhã. Várias pessoas já nos instruíram a pedir para cortarem aquele pinheiro, que suja a grama e a piscina, mas temos razões para ainda não termos feito, afinal, pertencem ao vizinho, embora o terreno esteja vazio, sem construção. E depois, ficamos pensando quantos anos de vida possui aquele pinheiro, que é muito alto e imponente. Seria muito difícil tomar esta decisão. Enquanto isso, o pinheiro vai ficando...

Nosso dia transcorreu sem mais incidentes, e fomos dormir. Ao amanhecer, bem cedinho, começamos a ouvir um som diferente, nunca antes ouvido por nós naquele local. Entendemos que poderia ser de um pássaro grande, mas que pássaro seria?
Curiosos, fomos até a varanda do quarto, tentando seguir aquele som e determinar de onde vinha e o que seria... De repente, a magia: dois tucanos estavam pousados no pinheiro. Meu Deus, foi um momento lindo demais, muito emocionante! Aquelas aves tão lindas, tão raras, tão magníficas, ali, cantando para nós, que, de camarote, apreciávamos. Foi um belo começo de manhã!

Passei então a pensar sobre o acontecido e analisar as facetas do pinheiro. No dia anterior sujou nosso quintal, causando desconforto e trabalho extra. Agora, aquele esplêndido espetáculo nos era oferecido a partir do mesmo pinheiro.

Paradoxos... contradições.
O pinheiro que suja é o mesmo pinheiro que abriga, que encanta, que causa grandes emoções. Arrancar o pinheiro seria uma forma de exterminar o problema das folhas secas, mas juntamente com esta solução iria a possibilidade de termos grandes e exuberantes pássaros próximos a nós, brindando-nos com sua alegria e beleza.

Partindo da reflexão acima, podemos pensar que, em nossa vida, assim também se procedem os acontecimentos. Podemos olhar uma experiência por diversos ângulos, e, a partir do ângulo escolhido, algumas coisas se mostrarão, outras ficarão ocultas.
O pinheiro não é somente aquele que suja, mas é também aquele que encanta. Quando podemos ver os diversos ângulos de uma situação, nossa visão se amplia, nossa consciência se expande. Desta forma, podemos ver mais longe, considerar melhor, e até escolher melhor.

O processo terapêutico visa esta ampliação da consciência, a ponderação de todos os lados de uma questão, o envolvimento e responsabilidade pessoal nas escolhas. Isto, muitas vezes, não facilita as escolhas, mas nos chama à vida, de forma mais ampla, mais expandida, mais real e com mais possibilidades.
 

 

 

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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Mirtes Carneiro    Mirtes Carneiro CRP06/111130 Psicóloga e Psicanalista Atendimento on line Tel 11 9 8108-5021 E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui.