A MORDIDA DE SUAREZ
Autor Paulo Tavares de Souza
Assunto PsicologiaAtualizado em 6/26/2014 10:22:13 PM
Quem não se impressionou com a mordida do jogador Suarez no ombro esquerdo do zagueiro italiano? Quem assistiu, tenho certeza, deve ter ficado estarrecido.
Seria culpa da carga colocada sobre os ombros desses atletas que são obrigados a lidar com doses excessivas de responsabilidade em função da expectativa de suas respectivas nações?
Não podemos deixar de considerar essa possibilidade, pois é justamente a cegueira de um povo, através desse triunfalismo inconsequente que transforma jogadores em soldados e meninos imberbes em lobos vorazes.
O que vimos atônitos foi uma resposta emocional infantil, até mesmo primitiva, oriunda do sistema límbico: uma parte do nosso cérebro reptiliano que lida com as emoções.
Muitas discussões e possibilidades são levantadas diante de um acontecimento dessa magnitude. Muitas teorias no campo da psicologia explodem como gêiseres numa hora dessas.
Suarez, muito provavelmente, tenha acionado recursos emocionais do seu mecanismo de defesa mais primitivo, procedimentos que o tenham salvado na infância ou mesmo em vidas passadas de qualquer constrangimento ou situação perigosa; recursos que só poderiam vencer a rigidez das barreiras racionais do neocórtex em função do alto grau de adrenalina no sangue em função das tensões de uma partida decisiva para o seu país.
Quem sabe, talvez, os psicanalistas não estejam certos ao explicar um ato desses com a teoria de prováveis problemas na fase oral?
Não importa! Tudo isso são conjeturas, apenas um tratamento psicológico poderia responder. Precisamos nos deter em outros questionamentos.
Uma situação como essa apenas nos mostra o quanto somos idiotas ao nos prostrarmos diante de ídolos de pano, jovens imaturos tratados como se fossem semi-deuses, reverenciados como foram Aquiles, Ulisses, Teseu, Perseu, e tantos outros que povoam as mitologias.
Suarez precisa de ajuda, como qualquer um de nós. Todos trazemos em nossa estrutura emocional eventos mau resolvidos, por isso é importante buscarmos ajuda, desenvolvermos o autoconhecimento, sabermos que é preciso tirar a máscara de super-homem e enfrentar nossas mazelas, buscar apoio psicológico, espiritual ou qualquer terapêutica voltada para o autodescobrimento.
Somos muito mais fortes do que esses conteúdos que nos atormentam, muito mais poderosos do que os conflitos que nos incomodam, pois, existe sim, uma força extraordinária na estrutura de cada ser humano, porém, será preciso criar as condições para que ela se manifeste.
Alguns "iluminados" de workshops falam facilmente em negarmos tudo isso, pois nada disso é real, ok! Mas as ilusões estão vivas, persistem e conseguem desetruturar todo o nosso campo energético, portanto, precisam ser dissolvidas e não existe mágica para isso, não adianta ler a obra inteira de um Osho e achar que estaremos livres desses enfrentamentos apenas através de insights.
Ninguém consegue aprender piano lendo apenas partituras, será preciso praticar arduamente. Ninguém se livra da própria sombra sem enfrentá-la, estamos aqui, justamente, para enfrentarmos os próprios medos, as nossas limitações.
Acreditem, só existe um caminho e é o caminho do desenvolvimento.
Não existe um bondinho que nos conduza ao topo da montanha, será necessário passar pelo desconforto e sofrimento da subida, pois só assim, uma vez que alcançarmos o topo, nossa visão será outra e nos sentiremos realizados.
O mais triste é ver a FIFA mostrando todo o seu rigor e truculência nessa história. Usando a Pena de Talião, acaba dando uma mordida muito mais severa no jogador. Ao fazer vistas grossas diante de todos os chutes, socos, cotoveladas que são muito mais perigosas para a integridade física dos atletas e resolvendo tudo da forma cartesiana, demonstra que estamos muito distantes de entender os princípios de igualdade a fraternidade.
Vamos tirar esse garoto da berlinda, pois já estão falando até em colocar uma focinheira nele.
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