A neurose da irmã deixou de incomodar
Atualizado dia 01/06/2009 19:29:52 em Psicologiapor Alex Possato
A cura através da mente inconsciente
Um cliente nosso, após vários meses de ter feito a terapia de constelação familiar, retornou, dizendo:
- Sabe, passaram-se vários meses depois do trabalho, chegou o final do ano e comecei a fazer uma reavaliação do que passou, dos meus planos, etc., e lembrei-me da constelação que fizemos. Mas sabe o mais interessante? Eu tentava lembrar qual era a minha questão, qual era o problema que eu queria resolver e não conseguia. Fiquei muito intrigado, porque sou racional e tenho tudo na cabeça. Só depois de muito pesquisar dentro de mim mesmo, lembrei-me, para então perceber que o problema desaparecera, sem eu nem perceber.
Este cliente passava por uma situação dentro de casa, onde uma irmã com questões de neurose incomodava demais toda a família, desestruturando a todos e dificultando a concretização dos planos individuais de cada um, já que ela canalizava a energia de todos com suas crises. Admirado, o cliente percebeu que a irmã restabeleceu um ritmo de vida razoavelmente equilibrado, não apresentava mais os surtos e todos podiam olhar um pouco para si mesmos. Foi justamente nesse espaço que ele viu a oportunidade de repensar sua vida, seu trabalho, seus relacionamentos, coisas que estavam esquecidas devido à preocupação sempre ativa com os problemas da irmã.
A resolução da questão veio inconscientemente, já que o sistema familiar não é percebido pelo ego, quer dizer, pela mente consciente. A irmã nada soube da terapia sistêmica realizada. O trabalho também não foi para "resolver" o problema da neurose, porque não é possível trabalhar o "problema do outro", mas sim, o problema que nós temos ao estar em contato com o problema do outro. O problema, na verdade, é sustentado por todos os membros da família. Por exemplo, uma engrenagem do relógio pode estar com defeito, mas o problema é do relógio que não funciona direito. A família é assim também: alguém pode apresentar um problema, mas a pessoa que busca o trabalho sistêmico deve entender que a única solução possível é ela estar e viver o melhor possível dentro dessa engrenagem familiar. Não significa que o outro irá melhorar, mas que ela viverá bem, "apesar" do problema. E às vezes, não é que, por deixarmos de dar combustível ao problema do outro, ocorre a melhora também?
De onde vêm os problemas?
Vamos falar um pouco sobre a percepção dos problemas através da nossa mente? Vou tentar ser simples. Se meu irmão tem problema, de quem é o problema? É dele, certo? Sim, é dele. Então, qual é o meu problema, já que sou irmão? O meu problema é o problema emocional que o problema dele causa em mim. Sinto-me incomodado, perturbado. Às vezes, sinto-me culpado porque apresento comportamento saudável e ele não. Fico chateado porque meu pai e minha mãe olham para ele, que provoca diversas questões, e não olham para mim, porque eu sou "normal". Tenho inveja dele que por sua neurose recebe mais cuidado, mais carinho (no meu ponto de vista), mais atendimento. E eu, ora bolas?
Está percebendo, querido leitor? Emocionalmente, entro em sintonia com a neurose do meu irmão. Devido à neurose dele, desperto a minha neurose, mesmo que ela não se manifeste em tanta intensidade.
A cura ao olhar para dentro
Se eu parar para respirar, lentamente, observando o ar entrando e saindo, e olhar somente para mim, profundamente, esquecendo por alguns segundos meu irmão, meu pai e minha mãe, perceberei que não preciso de nada. Sou amado, acariciado e visto, sempre. Dentro de mim pulsa uma alma aberta e grandiosa, que é capaz de ver todas as dificuldades, sem se inquietar, questionar ou exigir. Vou ver que tenho desejos, vontades, coisas que me dão prazer e nem estão sendo notadas, porque tenho a neurose do meu irmão como desculpa. Mas é exatamente ao me focar na neurose dele que posso também me sentir fraco, impotente, coitado... E assim, no fundo, desejo que a situação continue, pois vivemos num círculo de cobrança mútua, sofrimento mútuo e "cegueira interior" total.
Eu não tenho nenhum problema. E meu irmão também não. Somos essencialmente bons e perfeitos. As manifestações de neurose não passam de ondas na superfície, mas no interior profundo desse oceano reina o silêncio. O barulho que a minha mente faz ao ver o que acho que é problema, na realidade, é o meu barulho. A neurose do meu irmão é a minha neurose. Assim são todas as visões que temos de problemas. O problema que vemos fora, está dentro. Mas na superfície. Porque se mergulharmos para dentro de nós mesmos, percebemos que também esse problema nosso é inexistente.
Tomei a liberdade de dizer que esse irmão neurótico da minha cliente era meu irmão, porque também é. Somos um sistema. Terapeutas, clientes, leitores, eu e você que lê esta linha agora, estamos todos conectados. Literalmente. Podemos dizer que estamos conectados pelos problemas e dificuldades... dizem que pessoas semelhantes atraem pessoas semelhantes. Porém, eu prefiro dizer que estamos conectados pela nossa essência, pura, intocável, o silêncio essencial. Esse silêncio é a fonte da cura, da alegria, do prazer. O problema serve simplesmente como um grito, para lembrar essa essência. Assim, seja abençoada essa neurose. Que nos lembra a vida e a alegria de viver.
Alex Possato é professor de constelação familiar sistêmica e terapeuta sistêmico. Clique aqui e saiba mais
Texto revisado por Cris
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Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |