AMOR INCONVENIENTE
Atualizado dia 28/07/2012 21:55:50 em Psicologiapor Oliveira Fidelis Filho
Há muitos sentimentos, pensamentos, declarações e ações vivenciadas em nome do Amor que podem ser muito nocivas e inconvenientes, tanto para o sujeito de tal "amor" como para o objeto. Em verdade, muitos comportamentos em nome do Amor só possuem o benefício de identificar o que o Amor não é. O Apóstolo Paulo adverte, portanto, que "o Amor não se conduz inconvenientemente".
O Amor permeia toda a Criação como extensão do próprio Criador. Portanto, está, também, plenamente presente na alma humana. É a semente do Criador, semente da eternidade, em cada um de nós. O Amor é o Verbo eternamente encarnado que progressivamente se revela e ao se revelar transubstancia, transfigura e redime. Lembrando um provérbio do livro sagrado cristão "é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito".
O amor assemelha-se a um diamante bruto que progressivamente - individual e coletivamente - vai sendo lapidado, expurgado de todas as imperfeições, de todas as criações distorcidas de um ego ainda distante do Ser. Ego que, camuflado em Amor, expressa-se em comportamentos manipulativos, dos mais imperceptíveis aos mais flagrantes, dos mais sutis aos mais grosseiros, dos mais aparentemente inocentes aos mais nocivos.
Refém de uma personalidade moldada a partir da necessidade de adaptar para sobreviver, em um mundo tornado hostil pelas insanas exigências do ego, a maioria de nós permanece ainda distante de sua natural capacidade e vontade de amar.
Na maioria das vezes, um longo caminho de volta para "casa" é percorrido em meio a cenários pontuados de aprendizados felizes e dolorosos, desconstruções desconcertantes mas libertadoras cujo propósito é devolver ao ser, emudecido pelo ego, a capacidade de ouvir e atender a voz do Espírito que fala a partir da pátria da alma.
Quando, entretanto, ouve-se a voz do coração, é possível perceber e contemplar mais tangivelmente o toque macio e sutil do Amor incondicional, quase como um suave beijo de luz que lenta, mas progressivamente, vai abrindo caminho para a feliz expressão.
Aqui a rigidez mental e racional se permite permear pela inteligência emocional. Inteligência esta capaz não só de nos adornar com a capacidade da contemplação e nos brindar com a comoção, mas mais do que isso, de levar harmoniosa coerência à própria capacidade de decisão.
Neste degrau da "escada de Jacó" já foi dado um significativo passo na direção da inteligência espiritual e o efeito libertador, curador e salvador do Amor já se faz perceber.
Entretanto, o aspecto inconveniente do amor - do que é confundido com o Amor -, pode ser percebido em quem entende por amor o controle que necessita ter sobre as pessoas para suprir a própria ausência de Amor incondicional.
Pode-se perceber amor inconveniente em pessoas "cuidadoras", com a pretensa prerrogativa de saberem o que é melhor para as outras. Não raras vezes se apresentando com o perfil de "donos da verdade". Para camuflar a própria escassez, apresentam-se como orientadoras e grandes conselheiras.
Como o amor que transpiram, longe de ser incondicional é condicionado, facilmente frustram-se quando não encontram o retorno esperado daqueles a quem julgam suprir. Nestas situações fica evidente, através de suas retaliações e posturas de vítimas, o quanto o inconfessado retorno desejado serviria de autoafirmação e garantia para sua baixa autoestima. Removido o verniz do amor inconveniente, expõem-se as trincas oriundas do complexo de inferioridade.
O amor inconveniente pode apresentar-se também com o perfil "coração-de-mãe". Pessoas que o encarnam tratam seus relacionamentos, principalmente os familiares, com todo o zelo, mimo e amorosidade garantindo que ninguém se afaste dela e que seja sempre imprescindível para todos.
De tanto amor, acabam por interferir nos relacionamentos dos filhos ou netos, cortam as asas da liberdade daqueles com quem convive, sempre em busca do suprimento de sua necessidade de ser referência de bondade e acolhimento. A doação do amor, que deveria ser incondicional, vem mesclada com energias de manipulação, com o propósito velado de suprir carências interiores e não de auxílio despretensioso.
Comum neste perfil, quando o resultado do investimento não chega dentro do previsto, é a sensibilidade extremada que leva ao adoecimento. São pessoas que quando perdem o controle da manipulação sobre os outros chamam a atenção de todos para si através da autocomiseração, doença ou "síndrome de coitadinho de mim".
Em todos nós, o Amor encontra-se presente ainda que geralmente se expresse misturado em sentimentos confusos do ego. A plenitude dele no ser, na essência da alma, luta para atravessar as rígidas estruturas criadas pelo ego que fazem o ser humano se sentir carente e esvaziado de Amor.
Todo o Amor que precisamos, jamais virá de fora. Na proporção que o liberamos incondicionalmente, mais repleto dele nos sentiremos e menos inconvenientemente nos conduziremos.
O Amor não se conduz inconvenientemente e, se em algum nível o comportamento se mostrar inconveniente, é porque estará faltando verdade e pureza na expressão do Amor ou, em outras palavras, estará faltando Amor. O Amor incondicional, entretanto, será sempre inconveniente para os propósitos do ego.
Texto revisado
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Teólogo Espiritualista, Psicanalista Integrativo, Administrador,Escritor e Conferencista, Compositor e Cantor. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |