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Ansiedade e Angústia

Atualizado dia 12/3/2015 2:42:12 PM em Psicologia
por João Carvalho Neto


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Atualmente, com a divulgação dos conceitos psicológicos na mídia escrita e eletrônica, estamos ficando mais familiarizados com terminologias próprias a esta ciência, mas nem sempre as compreendendo de forma produtiva para nossas vidas.
Assim acontece com os conceitos de ansiedade e angústia, tão amplamente comentados e analisados.
Como ponto inicial, quero afirmar que podemos ter entendimentos diversificados sobre este tema, principalmente quanto às suas causas. Pretendo aqui fazer uma análise do ponto de vista mais psicanalítico, ainda que superficialmente, tangenciando algumas outras observações.
É preciso também reafirmar a força da indústria farmacêutica na supervalorização desses sintomas psicológicos, já que eles são fonte de uma comercialização muito lucrativa de psicofármacos.

Bem... mas o que é ansiedade e angústia?
Podemos dizer que a angústia é sempre algo que se segue enquanto a ansiedade é o que antecede, passíveis de se misturarem em alguns momentos porque o que antecede também se segue como expectativa de alívio, e o que segue vem marcado pelas experiências anteriores. Então, é pouco provável que se sinta angústia sem a ansiedade de se livrar dela, quanto se sinta ansiedade desvinculada de algum fato anterior onde a angústia esteve presente.
Eu gosto de definir angústia como uma emoção que sinaliza algo errado em nós, na nossa vida física, psíquica, social, espiritual. É como se ela viesse apontar que precisamos mudar, que algum padrão de comportamento já se encontra desajustado em relação ao nível evolutivo em que nos encontramos. E isto se formou porque não tivemos amadurecimento necessário para lidar com alguma situação que acabou ficando mal resolvida.
Em especial, nesse momento de transição planetária, isso tem sido muito comum. Muitos já vão avançando para uma compreensão mais larga da vida e de si mesmos, mas ainda continuam presos aos convites de uma filosofia sócio-econômica altamente perniciosa. É o que tenho denominado pelo termo “inadequação evolutiva”, quando a pessoa já poderia estar fazendo mais e melhor por si mesma mas ainda permanece acomodada a hábitos enraizados.
Já a ansiedade é marcada por uma expectativa de gozo, que nem sempre identificamos, e que pode ser um prazer que gostaríamos de usufruir o mais rápido possível ou mesmo a satisfação de se livrar de uma dor que nos incomoda. Neste último, em especial, a ansiedade vem acompanhada da angústia.

A ideologia vigente incentiva a busca pelo gozo total e absoluto –estratégia de alta eficácia no estímulo ao consumo– levando ao surgimento de uma ansiedade que nunca cessa, já que esta satisfação plena não existe. É como se estivéssemos buscando sempre algo que nem mesmo sabemos o que seja, como se um vazio interminável sugasse nosso foco de existir e de almejar outras realizações. Mas este vazio já existe em nós de forma inalienável, a falta que se origina de nossa ruptura com o Poder Criador por conta do próprio surgimento da individualidade em nós que traz esta sensação de fragmentação com o todo. O chamado trauma primordial. Então, ao invés de elaborarmos este vazio, aceitamos os convites do sistema que visam tamponar de forma paliativa a sensação de dor, mas potencializando-a ainda mais.

Claro que, como a angústia é necessária para sinalizar o que precisa ser resolvido, a ansiedade, em um certo nível, também é indispensável como mecanismo de preparar o ser humano para as adversidades. Freud defendeu que um certo nível de ansiedade impediria o surgimento de reações traumáticas às frustrações. Segundo ele, um trauma se estabelece por conta da falta de preparo psíquico para se enfrentar uma frustração. Pois a ansiedade tem esse papel, gerando uma apreensão que predispõe a uma maior segurança do aparelho psíquico. Algo bem parecido com o que o medo faz. Na verdade, o medo seria uma reação fóbica da ansiedade.

O fato é que, diante do exposto até aqui, sentir angústia e ansiedade não seria o problema, já que ambas possuem funções mantenedoras do aparelho psíquico. O problema é não saber lidar com elas, é não utilizá-las em benefício do desenvolvimento pessoal. O que nos tem sido proposto é que devemos eliminá-las quimicamente, sem que se faça uma leitura dos seus recados silenciosos. Não quero dizer com isso que os medicamentos sejam desnecessários. Muitas vezes o são, mas nem sempre, e mesmo quando utilizados não devem nos fazer esquecer do que se esconde por detrás dessas emoções.
O imediatismo da vida contemporânea nos faz querer estar sempre bem para gozar e o sistema nos quer bem para produzir, sem que sejam medidas as consequências desse pragmatismo.
A falta de compreensão da complexidade da vida, dos seus aspectos transcendentes, do porquê estarmos aqui e dos comprometimentos que vamos acumulando para um futuro que se desdobra inexoravelmente, pode fazer de nós embarcações perdidas na noite tempestuosa, sem rumo seguro para o porto de chegada. A depressão surge, hoje, como a segunda causa de incapacitação no mundo, e será a primeira até 2020. No Brasil, a estatística dos transtornos depressivos cresceu mais de 700% nos últimos dez anos.
E nós, ingenuamente, continuamos a acreditar que podemos resolver nossos problemas com um simples comprimido. “Cegos conduzindo cegos para o fundo do poço...”



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Conteúdo desenvolvido por: João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
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