Arqueologia da Alma - a cura pela palavra
Autor Paulo Zonta
Assunto PsicologiaAtualizado em 9/10/2021 1:46:50 AM
Palavra Terapia tem sua origem no grego antigo, Therapeúein que significava cuidar e ajudar. A palavra representa uma forma de comunicação entre o EU e o OUTRO, mas não só isso, e mais importante ainda, ela é um instrumento de interlocução entre o nosso EU EXTERNO (EGO) e o nosso EU INTERIOR. Não só quando falamos, mas também quando pensamos estamos nos utilizando dela. Todo ser humano é um ser social, e traz dentro de si um conteúdo simbólico muito rico pois é como nos comunicamos com o mundo ao nosso redor, inclusive com nós mesmos, e o simbólico só pode se traduzir através da comunicação, da palavra. È através da linguagem, que as imagens abstratas passam por uma tradução até chegar ao nosso entendimento, e assim concebemos o mundo ao nosso redor.
Sempre, para que entendamos ( ou mesmo para que não entendamos) ou para que possamos apenas dizer que não entendemos, invariavelmente passamos pelo crivo da linguagem, e fazemos isso todos os dias, a todo momento - a linguagem faz parte de nossa constituição como seres humanos. Se temos uma dor de cabeça, essa dor passa da SOMA (corpo) para a mente através da emoção e podemos sentir a dor, e para que possamos sentir essa dor, temos de traduzi-la em DOR, e aí já utilizamos a linguagem novamente.
Pode parecer um pouco complicado, mas na verdade a dor física passa pela emoção para chegar à mente, e assim podemos entender um pouco o processo PSICOSSOMÁTICO, ou seja, doenças que de alguma forma são causadas por males inconscientes e que se transformam em sintomas físicos pois não podem ser expressados de outra forma. Louyse Hay "Voce pode curar sua vida" trata desta ligação entre as várias doenças e seu significado metafísico. Mas além da psicossomática, a psicanálise pode ajudar no alívio não só de doentes mentais graves, mas de NEUROSE, um tipo de conflito psíquico que segundo Freud, todos temos, pois é uma defesa natural de nosso psíquismo, que criamos na nossa infância e após o nascimento ( e inclusive antes ) e que nos ajudam a lidar com os apelos do mundo exterior.
Sintomas como por fobias e medos, ansiedade, depressão, sentimentos de inferioridade, além de traços negativos de caráter são expressões de conflitos internos e profundos, as chamadas NEUROSES. Ocorre que quando não conseguimos lidar com algo em nossa vida, recalcamos, ou seja, jogamos essa dificuldade para nosso "porão" mental, onde ficam armazenadas nossas dificuldades e nossos "monstrinhos" pessoais, mas eles não ficam quietinhos, e tentam aparecer, se libertar e aí vêm à tona os sentimentos negativos de que falamos acima, só que como não podemos aceitar a existência destes "monstrinhos", e como não queremos lembrar-nos deles, pois não admitimos que eles existam, não conseguimos entender de onde vêm a angústia, e por isso sentimos algo que não está bem, mas não sabemos como mudar.
È o exemplo de pessoas que são negativistas: elas lêem livros sobre como desenvolver pensamentos positivos, mas não conseguem mudar, e mesmo que consigam por algum tempo, quando percebem já estão de novo no negativismo e desistem dizendo "não tem jeito, eu sou assim mesmo, não vou mudar". È possível mudar através da análise, da terapia, basta que tenhamos vontade e persistência neste caminho de arqueologia pessoal, de autonhecimento profundo, desfazendo os nós que nos bloqueiam e liberando nossa energia psíquica para viver mais plenamente a vida. Mas o mais importante é que estas neuroses causam ANGÚSTIA no indivíduo, e isso pode (e deve) ser tratado através de uma terapia para que o indivíduo possa viver uma vida melhor. Freud descobriu também que todos nós vivemos em função de um inconsciente através do qual, repetimos através de nosso comportamento, uma dinâmica interior que alimenta a neurose, fazendo com que vivamos em sofrimento (pois a neurose SEMPRE causa angústia de alguma forma), sem saber como sair disso, pois muitas vezes nem percebemos que estamos num CIRCULO VICIOSO. Crenças como "não sou atraente", ou "não tenho o direito de viver feliz", ou padrões de comportamento como por exemplo pessoas que vivem sempre relacionamentos problemáticos, e "atraem" os mesmos problemas para sua vida, ou pessoas que se apegam demais às outras, ou que não conseguem criar um vínculo saudável pois não têm bloqueios em se relacionar.
Todos esses chamados SINTOMAS delatam uma neurose que pode ser trabalhada através da análise. No final do século XIX, estava se esboçava uma ciência que viria influenciar não só o campo da saúde mental, como também as ciências sociais e a arte, era a Psicanálise que através de Freud, organizou um método de cura através da palavra. Ele descobriu que expressar pensamentos opressores em voz alta, trazia um alívio a sintomas físicos que desapareciam. Na época utilizavam-se de métodos invasivos como incisões no cérebro além de eletrochoques para tratar de problemas mentais. Freud descobriu o INCONSCIENTE, e criou um método para investigá-lo, entendê-lo e ainda modificá-lo, estava nascendo a Psicoterapia. Hoje temos várias técnicas incorporadas à de Freud, avanços na sua técnica, mas os conceitos de Freud continuam ainda tidos como a base para as PSICOTERAPIAS PROFUNDAS, ou seja, as psicoterapias que trabalham o inconsciente profundo.
Fazer uma arqueologia da alma é o papel da Psicanálise, rever o passado para entender o presente, tomar consciência de nossas dinâmicas inconscientes, de nossos s e por que o adotamos, entender nossa responsabilidade nas coisas que acontecem conosco, e tomar as rédeas da própria vida, mas não só isso, pois somente entender não muda nosso inconsciente.
Reviver momentos importantes de nossa infância, rever conceitos sobre nós e nossos pais, e tomar consciência de nossas motivações inconscientes, e como nos defendemos do mundo. Entender o papel da angústia em nossas vidas, estes são os objetivos da análise, da psicoterapia profunda e da psicanálise.
A Psicanálise, segundo o próprio Freud, é um trabalho de Autoconhecimento da Alma.
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