As nossas emoções: CULPA
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Autor Renata Kindle
Assunto PsicologiaAtualizado em 10/14/2014 7:08:51 PM
"Estou firmemente convencido que só se perde a liberdade por culpa da própria fraqueza."
(Mahatma Gandhi)
Falar da culpa não é muito fácil, há várias concepções, inclusive religiosa e essa é forte!
Mas, propus o desafio de facilitar a linguagem das emoções, traduzi-las para o idioma do senso comum e cá estou eu quase em apuros. Vamos lá, caneta na mão, passo a passo, com clareza e cuidado, pois a culpa parece mais um polvo cheio de tentáculos do que uma emoção em si.
Falam por aí que nunca é tarde demais pra nada! Ok, até pode ser em algumas situações, há alguma verdade nisso. Nunca é tarde para aprendermos algo, nunca é tarde para um novo sabor de sorvete, nunca é tarde para uma lista grande de coisas, situações e experiências, entretanto, em outro número razoável de coisas, o atraso pode ser fatal, pode significar o "nunca mais" ou um "não deu tempo de...". Então a premissa de nunca ser tarde perde seu status de verdade absoluta.
Perder o trem, o avião porque chegou tarde demais para o embarque pode ser corrigido pelo próximo horário de partida disponível, mas órgãos doados podem chegar tarde demais àquele que aguarda pelo transplante... sim, terá sido tarde! Talvez se corrija numa próxima doação, quem sabe?
Entretanto, há uma situação de "foi tarde demais" que considero ser a pior possível, a mais cruel dentre todas as possibilidades. Só de pensar nela, agora, neste exato momento que me sento aqui para escrever, meu corpo se arrepia, dá um nó na minha garganta, o ar circula de um jeito travado a cada respiração. É efeito da emoção, eu sei, que estou evocando agora, mesmo que "sem querer". E as emoções são assim mesmo, atuam em nossos corpos físicos, alteram nosso funcionamento. Bem, imagine a cena que se segue e observe o que você mesmo sente.
Pense numa pessoa realmente especial para você, alguém que você ame com toda a força do seu ser, com toda a força da sua concepção de amor. Então, simule uma briga com essa pessoa, uma briga violenta, permeada de muita raiva, de palavras ofensivas proferidas por você. Ok, despeçam-se assim, nesse clima, nessa briga e com todas as palavras e agressões que você dirigiu a esse alguém que você tanto ama. Então ela vai embora. Chora muito, está emocionalmente abalada. Ela não vê o sinal fechado e avança com velocidade no cruzamento. O acidente é fatal, a pessoa morre na hora. Então, como você se sente? O arrependimento é instantâneo, chega rápido! A culpa é dilacerante, mas não houve e nem haverá tempo de corrigir, terá sido tarde demais para se pedir desculpas pelas ofensas, pelas palavras graves, terá sido tarde demais para que se evite a briga, terá sido tarde demais para se evitar o acidente, a pessoa morreu, não tem volta!
Esse sentimento de culpa vai se sobrepor ao amor, a saudade vai fazer morada em seu coração, os pensamentos quase paranóicos vão perseguir você na vigília e nos pesadelos. A dor da culpa é profunda, tem um alcance inimaginável, tem a força de uma erupção de vulcão!
A culpa que sentimos é um sofrimento contínuo, depois que tomamos ciência de que não só deveríamos, como tínhamos as possibilidades de evitar algum comportamento nosso. É o tal do "se" aprontando de novo.
Claro, pode-se trabalhar a culpa em processos psicoterápicos, bem como em outras abordagens mais holísticas.
Para nós, psicólogos existenciais, um sentimento como esse de culpa quando obstaculariza, acaba por impedir ou promover uma auto-realização distorcida, necessitada de ajustes.
Mas e a culpa religiosa? É a mesma que a vida em sociedade proporciona, é uma culpa bem ligada a fatores morais (não necessariamente éticos, mas morais). A igreja católica fala em penitência, cada religião traz a sua maneira de expiação da culpa, mas sempre como se a pessoa tivesse que pagar uma dívida que se mostra impagável, como dinheiro tomado emprestado com agiota!
"A verdade sai do erro. Por isso, nunca tive medo de errar, nem dele me arrependi seriamente"(Carl G. Jung) Sim, os erros são nossos professores, aprendemos com ele, adquirimos experiências e assim, crescemos, evoluímos.
Há diferentes tipos de pessoas, isso é inegável e a culpa é diferente pra cada uma. Alguns erros, considerados mais graves atingem rapidamente o status de culpa e ela pode ser paralisante, como já vimos, pode ser torturante e pode trazer danosas consequências.
A culpa traz o espelho interno, a voz da consciência que, como o Grilo Falante do conto, fica lá martelando de que somos indignos e que temos que nos auto-flagelar por muitos e muitos anos, subir escadarias de joelhos para pagarmos o mal que fizemos ou o bem que deixamos de fazer. Algumas pessoas com esse sentimento se sentem tão diminutas, tão indignas, que a elas é difícil até receber um presente. Sempre se colocam em posição de fazer mais para os outros do que para si mesmas e sua auto-estima beira o nível zero!
Mas claro, existe "cura" disso que é tão dilacerante em nossos corações, em nossas almas. Ela passa pelo que comumente chamamos de perdão ou de auto-perdão, seja como for. Esse processo passa por reflexões, por se fazer verdadeiro contato com nosso íntimo, com nossas questões mais difíceis, menos elaboradas, as nossas nebulosas. A origem da culpa pode ser outra que não necessariamente aquele fato, ou mesmo várias. O que me faz sentir culpa? Como ela atua em mim? O que mais eu sinto quando ela emerge? Aprofunde mais, perguntando-se sobre tudo a seu próprio respeito, os sentimentos de abandono trazidos lá da infância, as situações de medo, de maus tratos, as perdas ao longo da sua trajetória.
Faça essas perguntas e tente ser o mais honesto quanto lhe for possível nas respostas. Observe sempre como você se sente no exato momento em que estiver em estreito contato consigo mesmo, com seu mundo interno. Observe como a sua "polícia" se manifesta, até que ponto você consegue caminhar, onde começam os seus conflitos. Seja sincero consigo mesmo ao se responder se você realmente poderia ter se comportado de maneira diferente e se esse comportamento ideal era esperado pelos outros ou se se trata de uma expectativa sua. Busque os momentos em que você sentiu-se culpado: era mesmo sua culpa ou culpa atribuída a você?
Responsabilizar-nos por nossas escolhas e atuações é saudável, impõe a nós os limites que desejamos tanto estabelecer para os outros nas suas relações conosco, mas a assunção da responsabilidade não é culpabilização. Quando nos responsabilizamos, pedimos perdão, mudamos nossas maneiras de agir e assim evitamos novos episódios que possam gerar mais e mais culpas. Essa culpabilização sem responsabilidade nos transforma em vítimas e lá vamos ficando, como mosquitos presos na teia da culpa, fazendo-nos repetir e repetir. A responsabilização nos leva ao crescimento, à liberdade e assim o céu se abre de novo diante dos nossos olhos, trazendo-nos todas as possibilidades.
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Psicóloga clínica e hospitalar (crianças, adolescentes, adultos, casais e família); autora de alguns textos e artigos. Desenvolvedora de um trabalho piloto sobre a atuação das emoções no corpo físico, que se realiza com grupos de oficinas terapêuticas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |