Ciúme: Uma emoção selvagem
Atualizado dia 01/02/2010 16:41:57 em Psicologiapor Osmar Francisco dos Santos
Ciúme e Inveja são sentimentos semelhantes. A inveja é mais egoísta e mais volátil, sendo às vezes admitida sem maldade. É uma sensação de inferioridade, dirigida contra pessoas reais, que possuem aquilo que gostariam de ter. O ciúme já é mais forte, porque além de sentimento de inferioridade, leva junto uma irritação devido ao fato de o ciumento se ver sozinho diante de dois inimigos: o traidor e o rival. Essa sensação de abandono, de solidão, pode aparecer já na mais tenra idade. A criança indefesa precisa dos cuidados maternos: ela não pode enfrentar o mundo sozinha. Se, de repente, a mãe a deixa sozinha, de lado, e dispensa suas atenções para o marido ou para outro filho, a criança se sentirá abandonada, o que lhe parecerá profundamente injusto. Terá medo da solidão e esse medo acrescido de mágoa de ter sido abandonada e da raiva de ter sido substituída, fará com que ela tente, por meios negativos, sair desse isolamento. Esse tipo de emoção se estenderá por toda vida adulta, de modo que nas mais diversas situações ela agirá sempre como um indivíduo ciumento.
O ciúme é, portanto, uma frustração. A pessoa ama ou julga amar e pensando não ser compreendida sente raiva e temor. Sente também que necessita fazer alguma coisa para reconquistar o amor perdido. Mas ela sabe que a solução desse caso não depende de seus atos, mas dos outros. E não depende de atos propriamente, mas de sentimentos e esses não podem ser impostos. Por isso o ciumento vive em constante tensão.
Há vários tipos de ciúme. Os mais comuns são:
1. O ciúme intelectual: nasce de uma afeição morna entre duas personalidades fortes. O orgulho é que é ferido, pois não há amor nem paixão neste caso.
2. O sentimento de posse exagerada: também é um caso de ciúme onde não há paixão sexual. A pessoa sente-se como se lhe roubassem um objeto que é só seu. Entram aqui os ciúmes dos pais, dos irmãos, dos amigos, e até da juventude perdida.
3. O ciúme nascido da paixão: é o mais comum e o mais violento também.
A primeira fase do ciúme é a suspeita, sempre provocada por um fato concreto, mas insignificante. A partir daí o indivíduo permanece atento aos mínimos detalhes, tornando-se cada vez mais inquieto. Passo a passo ele chega à convicção nem sempre real, de que é traído. Neste ponto, o ciúme já conseguiu modificar bastante as reações do indivíduo. Ele já não vê as coisas como realmente são. Torna-se desconfiado e injusto e dá importância demasiada a tolices inconseqüentes. Se o ser amado consegue acalmar o ciumento, tudo volta ao normal, aparentemente, só que ele terá que fazer isso sempre. Dentro dele, contudo, a ira cresce, porque além do ciúme existe agora a vergonha de ter se enganado. E essa vergonha é pior que a dor da solidão. Ele preferiria que a traição fosse verdadeira, porque nesse caso, pelo menos seu amor-próprio não estaria ferido.
O homem atual procura reprimir o ciúme, ou pelo menos disfarçá-lo muito bem, na maioria das vezes, levando-o para atividades subconscientes. Se a reação do ciúme se repete constantemente, este vai tomando corpo até tornar-se uma obsessão, um complexo de ciúme.
Não se pode negar no ciúme uma grande dose de masoquismo, e de sadismo. O ciumento vive, procurando situações: submissão, agressão, autocrítica, autotortura através de pensamentos, etc. Sua conduta varia bastante. Vejamos:
1. A conduta queixosa é típica das mulheres e dos homens com maior identificação materna. É adotado pelos pedintes de amor, que se dizem ofendidos, mas camufladamente ofendem e aborrecem. Desperta mais compaixão do que paixão.
2. A conduta trombuda é própria dos introvertidos. Diante da suspeita da traição, o indivíduo se fecha e tornar-se irritantemente silencioso e frio, até que o "culpado", cansado de indagar a causa de seu mutismo, afasta-se.
3. As pessoas maníacas ou paranóicas adotam sempre uma conduta recriminadora. Acusam com frases ofensivas ou até com agressão física. O ciúme é um pretexto para atormentar a pessoa que pensa amar, mas que, na verdade, odeia.
4. A conduta autopunitiva é semelhante à anterior, mas aqui o ciumento se faz vítima preferindo deixar o caminho livre para o rival. Em geral, tenta um suicídio espetacular de modo a deixar a pessoa amada (odiada) com um sentimento de culpa, mesmo que ela seja inocente. O que lhe interessa é fazer com que a opinião pública veja nele um mártir.
5. Há aqueles que agem na base da Pena de Talião: olho por olho, dente por dente. É a atitude vingativa. Só que os olhos e os dentes que o ciumento arranca são reais, e os que lhe são tirados são imaginários. O indivíduo ao suspeitar que é traído, trai de verdade, por vingança. Essa atitude, entretanto, é apenas um pretexto para expandir seus desejos de infidelidade.
6. Finalmente, temos a conduta superadora. É a mais lógica e também a menos comum. Ao perceber que está perdendo as atenções da pessoa querida, o indivíduo luta pra reconquistá-la, sem dramas, sem recriminações. Neste último caso, há realmente amor, porque só o amor suaviza os parodoxismos do ciúme. Só quando não há amor é que o ciúme doentio encontra caminho livre para atos de violência. O amor evita os excessos do ciúme e controla suas manifestações.
O indivíduo que mantém relações sadias com o mundo, positivamente, é quase incapaz de sentir ciúme. Seu amor pelos outros é a base de seu amor por uma pessoa determinada. Ele está sempre seguro de si e não tem o que temer.
O homem que não tem amor, nem simpatia, nem contato espiritual com seus semelhantes e com a humanidade em geral, traz em si o sentimento do ciúme como uma semente. Ele já é ciumento muito antes de se tornar enciumado daquela determinada mulher... que ele julga amar.
Na verdade, a causa do ciúme é a insegurança que gera a baixa auto-estima e isto costuma desenvolver um tipo de "mendicância afetiva" que desvaloriza o ciumento aos olhos do outro. A cura do ciúme passa necessariamente pela descoberta de suas causas e o desenvolvimento de uma melhor relação intrapessoal.
Nos rompimentos afetivos, quanto mais a pessoa tenta demonstrar a sua dor e sua necessidade, mais desvalorizada ela se torna. Isso acontece porque o estado de necessidade que ela procura demonstrar, com a intenção de despertar o interesse da outra pessoa, funciona contra si próprio, pois ninguém admira o que não tem valor.
Dr. Osmar Francisco
Texto revisado
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•Participante do Núcleo de estudo Junguiano do Rio de Janeiro; •Palestrante e autor de trabalhos sobre Psicologia Junguiana publicados em revistas universitárias e outras; •Psicoterapeuta transpessoal da linha Junguiana; •Administrador de Empresas e Consultor de Qualidade Total na Área de Recursos Humanos. •Atuação em Consultório particular. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |