Elaboração ou Repressão
Atualizado dia 9/24/2013 1:29:46 AM em Psicologiapor João Carvalho Neto
Basicamente, temos duas formas de lidar com as frustrações: elaboração ou mecanismos de defesa, dentre eles o principal é a repressão, até porque nas demais estratégias defensivas do ego também acaba havendo algum tipo de repressão.
Os mecanismos de defesa se fazem necessários quando a elaboração não é eficiente para aliviar as tensões intrapsíquicas; contudo, eles trazem perdas consideráveis de energia mental, quase nenhum ganho de amadurecimento, efeitos secundários como tendência à repetição do fato frustrante, em uma tentativa de aliviar uma situação que não se resolveu mas apenas se postergou.
Penso que a psicologia comportamentalista, como também a hipnose condicionante ou as técnicas de programação neurolinguística (PNL) apresentam estratégias mais defensivas contra a dor do que propriamente de elaboração para a superação. Com isso, o sintoma pode até deixar de existir mas os conflitos que o geraram permanecem.
A elaboração funciona como os mecanismos fisiológicos da digestão, onde um alimento (conflito) tem que ser digerido (elaborado) para gerar energia (amadurecimento).
Mas como funciona o processo da elaboração...?
O conflito se instala sempre por conta de um desejo que não se realizou. Qualquer que seja o tipo de situação conflitante, vamos encontrar algum tipo de desejo que busca realização sem o conseguir. Por exemplo: a pessoa perde a presença de outra muito amada e isso gera uma frustração. Essa frustração foi construída em cima do desejo, que não pode mais se realizar, de continuar a conviver com aquela pessoa.
O desejo tem sua fonte geradora no inconsciente, em processos que não nos caberia analisar em um texto dessas proporções. A elaboração vai acontecer ao nível da consciência, claro que lembrando que as instâncias psíquicas não funcionam de forma compartimentalizada mas sistêmica.
É justamente no exercício da razão que a elaboração se inicia, através das reflexões que ajudam a ajuizar os fatos conflitantes, com ponderações sobre a inevitabilidade dos fatos e as formas de seguir adiante privados daquele desejo que não pode se realizar.
Nesse sentido, quanto maior for a compreensão da pessoa sobre o funcionamento dos mecanismos transcendentes da vida e da sua própria realidade psicoespiritual, mais material reflexivo esta pessoa terá para iniciar seus processos elaborativos. Por isso, o ser humano que queira avançar para padrões mais felizes de existência, com mais estabilidade emocional, precisa investir em buscar compreender as leis cósmicas que regem o universo, a nós mesmos e a nossa interação com o todo. Essa compreensão traz uma lucidez que falta ao que a ignora. Mas essa lucidez também não é fruto apenas de um conhecimento formulado mas da introjeção desses conteúdos a um nível pragmático que contextualize conteúdos e vivências. Isso é sabedoria.
Na trajetória desse exercício reflexivo surgem, então, os processos de sublimação dos desejos frustrados que levará à consumação da elaboração.
Freud, do seu ponto de vista da unicidade da existência, acreditava que a sublimação era um mecanismo de defesa também, mas ele mesmo a considerou como o mais eficiente e com menos efeitos secundários. Isto porque, do ponto de vista da multiplicidade das existências encarnatórias, a sublimação deixa de ser um mecanismo de defesa mas um aspecto do próprio processo de evolução psicoespiritual do ser.
Na sublimação, a pessoa redireciona as energias dos impulsos inconscientes dos desejos para as obras de engrandecimento consciencial, como na percepção da beleza estética das artes, nas obras da cultura, da promoção social, da educação e da religiosidade, não necessariamente enquanto religião instituída mas como expressão das buscas pela religação com a criação.
A sublimação coloca o indivíduo em um nível acima dos acontecimentos transitórios mundanos, ampliando percepções mais transcendentes e ressignificando os fatos que geram frustração.
No meu entendimento, esta é a única estratégia eficaz para a superação das frustrações, trazendo desenvolvimento na medida em que os “alimentos” psíquicos (conflitos) elaborados pela “digestão” consciencial, se transformam em produtos de aprendizagem (energia) que irão fomentar o amadurecimento do ser.
Para este ser humano, a felicidade é possível, sim, não como uma expressão de gozo absoluto e permanente (na verdade, incapaz de ser alcançado), mas pelo estado pleno de se sentir senhor de si mesmo e de seu caminho evolutivo.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor dos livros
“Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal”.
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IV CONGRESSO NACIONAL DE TERAPIA REGRESSIVA
7 a 9 de novembro 2013 - Rio de Janeiro
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Texto revisado
Avaliação: 5 | Votos: 51
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal" E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |