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Então, A Culpa É Minha?!

Atualizado dia 6/6/2012 7:53:58 PM em Psicologia
por SPAÇO NATUREZA & TERAPIAS


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Então, a culpa é minha?
 

Por Silvio Farranha Filho, psicanalista

No set terapêutico, como as pessoas se sentem diante destas questões?
"Os conteúdos emocionais que estão mal-resolvidos em você, aparecem nas pessoas, situações e coisas à sua volta", "Se você quer corrigir o outro, corrija primeiro em você o que lhe incomoda em relação ao outro", "Tudo aquilo que o outro lhe faz é exatamente o que você faz consigo", "- Se recebe maus tratos, é porque você se maltrata".

Muitas pessoas são acometidas de indignação e reagem à primeira vista: "Então, a culpa é minha?", "O outro é inocente e não é responsável por nada? "Nadinha"? As reações são ainda mais delicadas, principalmente quando elas chegam apontando que é o pai, o marido, a esposa, a mãe, o irmão, o chefe, o governo, Deus, como os responsáveis pelos seus próprios sofrimentos. A solução do problema só depende dele/dela!

Para compreendermos o fenômeno por detrás destas expressões, necessitamos mudar o nosso olhar para o seguinte: uma coisa pode estar em vários lugares ao mesmo tempo. Esta mesma coisa envolve a todos psiquicamente, mas se materializa em alguns. As pessoas envolvidas fisicamente não são exclusivamente culpadas e as que sofrem as conseqüências não são exclusivamente inocentes. Quando um, apenas um, resolve corrigir em si mesmo esta coisa, as outras pessoas envolvidas se corrigem automaticamente.

Vejamos um exemplo. A mulher fala alto porque o marido não ouve. O marido não ouve porque a mulher fala alto. Quanto mais alto ela fala para que ele possa ouvir, mais surdo ele se torna. Quanto menos ele deseja ouvir, mais alto ela fala. Ela o culpa por ele não ouvir. Ele a culpa por ela falar alto. Dentro de si cada um carrega um sentimento de culpa. Todos os esforços que cada um faz para o outro mudar não surtem nenhum efeito. Segue-se, então, brigas e discussões e muita ameaça de separação de ambos.

A "coisa", que no fundo é a capacidade de ouvir e acatar o outro, que os dois perderam é resolvida quando um ou outro muda a sua forma de agir. Ao invés de movimentar-se em direção ao outro, passa a movimentar-se em direção a si próprio. Vejamos como isso acontece pela ótica dele. O marido toma a decisão de melhorar a sua audição, ele passa a ouvir, atender aos apelos daquilo que ouve. A mulher ao perceber este movimento do marido começa a baixar o seu volume de voz porque percebe que está sendo ouvida e atendida. Quanto mais ele apura a audição, mais baixo ela fala. Ao harmonizar-se com a sua audição, o marido percebe que o seu problema não era o de ouvir, mas justamente o de falar, expressar o que pensa e sente. A "coisa" atinge a cura quando ele começa a expressar-se e, este movimento leva a mulher a entrar em contato com o seu ouvir, pois a má capacidade de ouvir a si mesma era a causa dela falar alto, por isso a surdez do marido a atormentava, pois refletia a sua própria surdez. A surdez era a sua sombra. Os mesmos resultados são encontrados vistos pela ótica da mulher.
Os parceiros se encontram na necessidade, na privação, na escassez, na solidão, no medo da morte, no abrigo, na proteção e cada um tem o seu livre-arbítrio, a "coisa" é justamente a Sombra. É a Sombra que atrai os parceiros. No caso, a Sombra dele atraiu a parceira que fala alto. A Sombra dela foi atrair justamente um parceiro mudo, calado.

Na verdade, não há culpados, ninguém é culpado de nada, nem de ninguém. O que existe é algo que deve ser identificado e resolvido e que está afetando a todos. O melhor a fazer é mudar o movimento em direção a si mesmo, sem olhar julgador, sem sentimento de culpa ou de não merecimento.

Texto revisado

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