Essa tal felicidade
Autor Renata Kindle
Assunto PsicologiaAtualizado em 01/10/2014 11:00:18
A felicidade é engraçada. É uma força tão estranha que parece extramundana. Padres, pastores, professores, avós, tios, pais... absolutamente todos aqueles que estão em algum ponto acima de nós, orientando-nos e nos educando nos passam uma ideia de felicidade que hoje julgo ser muito diferente daquela que consegui construir.
Eles nos ensinam a felicidade como um prêmio depois do caminho, o pote de ouro no fim do arco-íris. Não penso assim. Não é necessário ser triste durante todo um percurso para sentir a felicidade somente na linha de chegada. A felicidade é todo o caminho percorrido, mesmo que tomemos alguns tombos, mesmo que nosso pé tropece numa pedra enorme, mesmo que experimentemos alguns momentos de dor e de tristeza, ainda que a alegria não esteja o tempo todo presente, ainda assim podemos nos dizer felizes e levarmos nos olhos o brilho dessa tal felicidade.
Não é possível a felicidade que se baseia na racionalização, ela é sentimento, ela é emoção, ela é o que provoca o surgimento da nossa melhor parte. Ela nos provoca o riso intenso e o pranto comovente.
Um instante de felicidade vale mais que cem anos de tristeza. A tristeza dá trabalho, a felicidade traz o alívio. É humana!
Há felicidade no encontro dos amantes e há felicidade na despedida que sabe do próximo encontro. Ela se concretiza nos corações, nos lábios e nos olhos.
A felicidade é o raio de sol que desponta no horizonte trazendo a promessa de uma nova manhã. É a chuva que cai aliviando o peso das nuvens carregadas. É o choro do bebê que ganha seu espaço no mundo. É o beijinho que sara o dodói. É o sorvete que derrete e escorre pelas mãos numa tarde de calor. A felicidade é a peça de teatro que comove, é a música que embala, é a poesia que envolve. A felicidade é a conquista dos sonhos, mas é também o próprio sonhar. É a renovação da vida quando o pássaro volta ao seu ninho depois de alçar um voo tão alto. É voltar pra casa depois de um dia cheio. É o vento na janela do carro. É o cobertor que aquece e é o travesseiro que recebe nossos pensamentos.
O outro não é responsável por nossa felicidade nem causa nossa tristeza. Mas somos mais ou menos felizes com ou sem ele.
A felicidade é a decisão de amar e permitir-se ser amado. É não ter medo de virar a página do livro. É não dominar os sentimentos, mas saber o que fazer com eles. A felicidade acelera os batimentos do nosso coração, na mesma medida em que o acalma.
A felicidade pode vir embrulhada numa barra de chocolate, se assim desejarmos. Pode vir numa descida no tobogã do parque. A felicidade é tomar chuva e sentir-se batizado diretamente pela mão de Deus. A felicidade é um carinho, uma palavra que nos traga de volta. A felicidade está na asa das borboletas, nas pétalas de uma flor ou numa caneca de chá na noite fria do inverno.
A felicidade pode ser encontrada debaixo da cama, dentro do armário ou na água que o chuveiro nos oferece. A felicidade é luz e é também escuro. A felicidade não é escrava do sonho, do desejo desenfreado. A felicidade não é pesada nem pode ser medida.
A felicidade está no gol do nosso time, no tambor e na cuíca da escola de samba. A felicidade é o sino que avisa que aula acabou. A felicidade é o momento compartilhado com aquele a quem amamos. A felicidade é uma xícara de Toddy, um copo de água, uma aspirina. A felicidade tem cara de lasanha, tem cheiro de orégano e gosto de bala de caramelo.
A felicidade nos faz voar sem tirarmos os pés do chão, mas nos traz de volta.
A felicidade é eterna no momento que acontece e é imortal em nossa memória.
Essa tal felicidade, é o meu desejo para você!
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Psicóloga clínica e hospitalar (crianças, adolescentes, adultos, casais e família); autora de alguns textos e artigos. Desenvolvedora de um trabalho piloto sobre a atuação das emoções no corpo físico, que se realiza com grupos de oficinas terapêuticas. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |
