Hospício social – sua loucura pode ser a sua cura
Atualizado dia 11/24/2009 11:20:04 PM em Psicologiapor Andrea Pavlo
Estou lendo o famoso livro “O Vendedor de Sonhos” de Augusto Cury. Peguei para ler, sinceramente, porque achei que tivesse qualquer coisa a ver com vendas; no final, era tudo o que andava mesmo precisando ler. Vender sonhos? Perder-se para se encontrar? Afinal de contas, o que era tudo aquilo?
A parte que mais que pegou até agora foi a que ele fala que são todos uns loucos neste mundo. E os piores loucos são os que se acham normais. Ele até coloca umas aspas na palavra “normais” cada vez que a pronuncia, como se fosse mesmo falar de uma doença. Na realidade, reflete bem o que eu acredito. Eu tenho medo de pessoas ditas normais.
Por normais leiam-se todos aqueles que não enxergam a própria loucura. Ou melhor, que estão tão mergulhados num mundo de ilusões que perdem completamente o contato consigo mesmos. Esta semana ouvi uma notícia que chocou muita gente. Uma mãe que deixou o bebê de seis meses dentro de um carro escaldante durante 7 horas. Obviamente, seguindo as leis da natureza, a criança faleceu. E o que pensar desta mulher?
Como bem disse Ana Maria Braga quando noticiou isso no programa dela “Quem sou eu para julgar?”. Sim, é muito complicado isso. Julgar alguém implica em você ser o certo e a pessoa ser a errada. E eu não sou mãe, não sou esta mãe, para saber o que se passou na cabeça dela. Mas, na minha humilde opinião, ela simplesmente reflete a loucura social.
As pessoas estão tão fora delas que não se lembram que seus filhos estão dentro de um carro. Eu realmente acredito que ela não se lembrou. Que ela mudou a sua rotina e acabou por não perceber o seu bebê dentro de um carro. Mas pense no grau de concentração desta pessoa, em todos os outros milhões de aspectos da vida, para se esquecer de uma coisa destas. É quase alguém que não está mais encarnada. Que não sente. Que se perdeu tanto no mundo das suas idéias e seus ideais que não se lembra do básico e do importante: o que ela sente.
Dizem que as mães sentem. E eu tenho certeza de que esta mãe sente. E tenho certeza que tem muito pouca coisa do mundo que vai abrandar a dor dela. A dor da perda, a dor da culpa, a dor do julgamento social. A dor de ter se perdido de si. Antes de perder o seu filho, ela se perdeu de si mesma. Mergulhou no mundo insano das ilusões. As ilusões de poder, de trabalho, de status. A ilusão de que precisava ser uma super profissional, mãe, mulher, cozinheira, amante, dona de casa, responsável, malhada e feliz. Mergulhou na ilusão de fazer todo mundo se orgulhar dela, todo mundo ver como ela é maravilhosa. Esqueceu, ou talvez nunca tenha aprendido, que o nos interessa mesmo está dentro daquilo que chamamos coração. Lá dentro, na alma, que ela supostamente nem sabe mais onde fica.
E eu pergunto: quem sou eu para julgá-la? Se muitas vezes me peguei presa nas minhas próprias ilusões. Se tantas e tantas vezes caí do cavalo da minha arrogância por pensar que estava certa e o mundo errado. Por pensar, pior ainda, que existia um certo e um errado. Quantas e quantas lições eu tomei na cabeça para aprender a me ver, a me olhar. A voltar e reencarnar neste mundo real.
Eu ainda tenho um monte de ilusões e, vira e mexe, eu me bato com elas. E tenho certeza de que um monte de gente lendo este texto (e talvez até pensando nas compras do supermercado, na geladeira quebrada e em marcar esteticista) também as tenham. Mas precisamos despertar. E ouvir estas histórias é como um galo cantando nas nossas orelhas, zunindo e pedindo “pelo amor a Deus, voltem a si mesmos”. Volte a ser você. Veja o que é realmente importante na sua vida. Pare de se importar com bobagens, com o que os outros pensam. Com o que você deveria fazer ou não fazer, em como os outros vão te ver.
Esta mãe aprendeu, e está aprendendo, de uma maneira muito, muito difícil. Independente da culpabilidade dela, que cabe à justiça dos homens julgarem. Eu não estou aqui para defender ou atacar ninguém, mas para perceber um fato. Uma coisa que aconteceu e que nos mostra como ainda vivemos num grande hospício. Sugiro sim a leitura deste livro. Mas sugiro, mais ainda, a leitura da sua própria alma. Suas atitudes, suas vicissitudes, suas crenças. Lá, dentro de você, está a sua loucura. E sua loucura pode sim ser a sua cura.
Texto revisado
Avaliação: 5 | Votos: 12
Psicoterapeuta, taróloga e numeróloga, comecei minhas explorações sobre espiritualidade e autoconhecimento aos 11 anos. Estudei psicologia, publicidade, artes, coaching e várias outras áreas que passam pelo desenvolvimento humano, usando várias técnicas para ajudar as mulheres a se amarem e alcançarem uma vida de deusa. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |