Meditação e postura terapêutica sistêmica
Autor Nokomando - desenvolvimento sistêmico
Assunto PsicologiaAtualizado em 2/18/2011 12:36:49 PM
A constelação sistêmica é realmente uma técnica... digamos, diferente das tradicionais. Nós, desde a mais tenra idade, somos ensinados que, para alcançar determinado objetivo, devemos analisar, colher dados, processar as informações juntamente com o nosso conteúdo interno, e concluir um resultado, para podermos agir. Não é assim? Bem, falando especificamente de terapia, o profissional muitas vezes é tentado a achar que, devido ao seu conhecimento e experiência, sabe qual é o problema do cliente, e assim, poderá ajudá-lo a chegar a um bom resultado. Porém, Bert Hellinger, o criador da constelação, não vê dessa forma. "Quando estamos com um cliente, começamos a pensar imediatamente: o que pode ser? Assim que começamos a pensar, entramos num certo campo. Contudo, posso também proceder de uma maneira bem diferente, embora tenha mostrado muito pouco disso aqui. Eu me sento ao lado do cliente e não pergunto nada. Eu espero. Também não penso, mas me concentro. Com isso vou para um outro campo, mergulho, por assim dizer, em um outro campo. Então sinto uma conexão com ele. Agora ele também precisa se concentrar, porque está sentado ao meu lado e não pode fazer nada. De repente muitas coisas se desprendem dele, tudo aquilo que ele imaginara, e ele atinge esse outro nível." Ordens da Ajuda - Editora Atman Bem... ao ouvir Hellinger dizer "eu não penso"... o que vem a você? Você consegue ficar sem pensar? Alguns segundos, pelo menos? Imagine-se você, sentado ao lado de um cliente que está, por exemplo, com depressão, que pagou e espera que o trabalho dê algum resultado, e você sem fazer nada, sentado, sem pensar...
Talvez seja difícil ficar neste estado, digamos, contemplativo, não é mesmo? Aí entra a prática da meditação. O que é meditar? Osho diz: "quando você não está fazendo absolutamente nada - corporalmente, mentalmente, em nenhum nível - quanto toda a atividade cessou e você simplesmente é, apenas sendo, isso é meditação. Você não pode fazê-la, você não pode praticá-la; você tem apenas que compreendê-la". Nesse estado, somente nesse estado, é possível acessar àquilo que Hellinger determinou como outro campo. Shunryu Suzuki, mestre zen japonês, diz que "a mente grande é algo que se expressa, não que se decifra. A mente grande é algo que se tem, não que se busca".
Imagine a dificuldade que nós, ocidentais, tão viciados em trilhar meios para alcançar resultados, temos de entender e até aceitar que algo possa surgir sem a interferência da mente! Como um terapeuta não faz nada, mas algo acontece? Em algumas pessoas, esse conceito as torna furiosas... Isso ocorre porque, ao sentarmos em silêncio, nossos pensamentos, conflitos internos, emoções, crenças, instintos e toda a gama de poluição mental começam a pulular. É mais fácil lidar com o barulho mental, que é conhecido, do que permitir-se estar em silêncio, que pode ser assustador.
Ao sentar ao lado de um cliente, e tentar - eu disse tentar - estar em silêncio, pode vir o julgamento: coitado, ele está tão mal! Ou quem sabe: puxa, quanta arrogância dela... não respeita os próprios pais! Ou ainda, para as pessoas mais sensitivas, começam a perceber o enjôo que o próprio cliente sente... E aí interpreta que é obsessão, energia negativa, ou sei lá o que... Tudo isso é barulho mental. Não que não se deva sentir ou pensar... Mas a questão é se identificar com o sentimento ou pensamento. Agarrá-los de tal forma que a arrogância do ego diz: eu sei! Eu sei o que está acontecendo! Permita que eles passem... Não achar que, porque você sente ou pensa, que eles são reais. Não são. Como o budismo diz, é ilusão, maya. Uma grande dica é começar a praticar um exercício interno de desidentificação entre o certo e errado. O bom e o mau. O justo e o injusto. O místico sufi Hazrat Inayat Khan nos dá a dica: "É preciso ser capaz de ver a dor no prazer e o prazer na dor; o ganho na perda e a perda no ganho. O que geralmente acontece é que a pessoa está cega para uma coisa e os seus olhos estão abertos para outra coisa; ela não vê a perda ou ela não vê o ganho; se ela reconhece o certo, ela não reconhece o errado".
Paulatinamente, você perceberá, neste caminho, que não existe nada, absolutamente nada que não tenha polaridades opostas. Em última análise, bom e mau são conceitos que podem serem invertidos o tempo todo, a seu bel prazer. Essa compreensão, que é profunda, abrirá um espaço em sua mente suficiente para que você consiga observar o além da mente, sem se apegar aos seus próprios conceitos e sensações. Assim, a meditação pode acontecer. Hellinger chama isso de compreensão através da renúncia. "Quem tem intenções impõe à realidade algo de seu. Quer, talvez, alterá-la, de acordo com uma imagem preconcebida, quer, talvez, influenciar e convencer outros, segundo essa imagem. Mas, assim, age como se estivesse numa posição superior, perante a realidade, como se ela fosse o objeto para seu sujeito e não o contrário: ele, o objeto da realidade. Aqui fica evidente o que nos é exigido, quando renunciamos às nossas intenções, inclusive às boas intenções, desconsiderando que o bom senso nos exige essa renúncia, haja vista que a experiência tem nos mostrado que aquilo que fazemos com boas intenções, inclusive com a melhor das intenções, frequentemente falha."
Alex Possato é terapeuta sistêmico, numerólogo e escritor... e diretor do Nokomando-desenvolvimento pessoal e espiritual
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