MISSÕES DA VIDA
Autor Verônica Dutenkefer
Assunto PsicologiaAtualizado em 4/9/2015 5:02:09 PM
Eu tinha uma grande ilusão que só estaria realizando minha “missão”, sendo terapeuta.
Meu anseio em ajudar as pessoas as acompanhando por algum tempo em suas jornadas, era minha maior razão em viver.
Mas chegou um tempo em que ficou impossível conciliar meu trabalho como educadora, meu trabalho como terapeuta, realizar minhas tarefas domésticas e cuidar de meu pai doente.
Percebi que teria de abdicar de algo, pois a carga estava pesada demais!
Não foi fácil optar por parar de atender. Me debati, me condenei, me rebelei contra essa situação que a Vida estava me trazendo. Mas ela sempre vence e me impôs essa aprendizagem.
Só consegui ter um pouco mais de paz quando percebi que aquela escolha era temporária e não definitiva. Eu iria parar de atender por um tempo e não para sempre.
Mesmo assim, gastava imensa quantidade de energia me consumindo em revoltas. Até que um dia, fui a uma terapeuta corporal e ela em sua sabedoria simples me disse:
“Pois agora é tempo de você cuidar de seu pai.”
Aquelas palavras tão óbvias me tocaram profundamente. Compreendi que a minha “missão” naquela etapa de minha vida era cuidar do meu pai. Gostando ou não, era isso que estava me sendo solicitado.
E foi o que fiz.
Me entreguei a essa “missão” acompanhando meu pai de perto, no fim de sua jornada.
Quem já passou, ou está passando por isso conhece as enormes dificuldades que é acompanhar alguém a quem se ama tanto, e perceber que ele está partindo...
Acompanhar os últimos passos, com todo o sofrimento que algumas doenças impõem .... A impotência absoluta que reina ao perceber que está sendo uma testemunha da finalização de uma vida!
Meu pai faleceu na companhia impotente de minha cunhada, meu esposo e da minha companhia.
Precisei de mais um tempo para me recompor.... me recarregar... me fortalecer.
E percebi que a Vida agora exigia que eu acompanhasse minha própria jornada, recolhendo os cacos que haviam sobrando e me reinventando. Cuidando de mim.
Hoje finalmente já retomei minha jornada como terapeuta, mas não tenho mais a ilusão que só posso contribuir com a humanidade, exercendo essa profissão.
Hoje sei que temos muitas missões, nem sempre a que escolhemos, mas sim a que temos condição de realizar. Mesmo que não saibamos que já estamos preparados.
E como na escola onde o educador só aplica uma prova depois que percebeu que seu aluno teve a oportunidade de aprender, a Vida vai nos avaliando.
E quase sempre desconhecemos nossa própria força e sabedoria.
Podemos sim contribuir com a humanidade com pequenos gestos. Dentro de um núcleo pequeno (como sua família) ou grande (como um grupo maior de pessoas) você pode mudar o futuro da sociedade. O que importa não é a quantidade de pessoas que você conseguiu abranger, e sim a quantidade de dedicação e amor que você coloca nas experiências de sua vida.
E uma condição essencial para a realização de suas “missões” é permanecer ao seu próprio lado. Se cuidando, se percebendo, se transformando e fortalecendo - se para poder realmente ter o que dar ao seu próximo. Pois sabemos que só podemos doar aquilo que temos, e para termos é preciso cultivar primeiro dentro de nós mesmos.
Boa missão à todos!
Verônica Dutenkefer
06/04/2015
Avaliação: 5 | Votos: 3
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