NO PAÍS DO JEITINHO SOMOS TODOS CORRUPTÍVEIS?
Atualizado dia 4/20/2010 8:45:14 AM em Psicologiapor Silvana Lance Anaya
No país do "jeitinho" e do "leve vantagem você também" o clima de corrupção existe desde o descobrimento e tornou-se um problema social e cultural de difícil solução, a exemplo temos até a popular figura do simpático malandro que se sobressai em detrimento a do "honesto otário" numa notória inversão de valores!
A corrupção está presente em diversos setores da sociedade, e no cenário político devido a facilidade de obtenção de vantagens significativas, proliferam velhacos que na maior insolência e em meio a preces de agradecimento protagonizam os mais variados escândalos com ardilosas manobras e até inusitados esconderijos para acondicionar o proveito ilícito!
Haja criatividade, e seria até cômico se não fosse uma catástrofe!
Todos temos o potencial da corrupção com a possibilidade do bem e do mal que em nós existe. Como instinto de sobrevivência, aprendemos desde pequenos a tentar corromper para que tenhamos aquilo que desejamos.
Nos lares, a falta de limites, de valores morais e a ausência que muitas vezes é compensada com regalos, contribui para que muitos aprendam que são onipotentes, que a esperteza sem ética é valida e que suborno é algo normal!
A corrupção pode até ser vista como um transtorno de personalidade anti-social, um defeito do caráter ou falta de desenvolvimento de senso ético onde o indivíduo tem plena consciência de seu ato, e quando já existe um potencial nos genes, a interação em um ambiente com muita permissividade contribui de forma negativa ao invés de conduzir para a ética.
Eis a responsabilidade e um dos grandes desafios daqueles que têm a missão de educar, afinal, quem está acostumado a "deitar e rolar" ou "mamar" sem limites no seio da família vê com naturalidade o fato de fazer o mesmo às custas da sociedade! Esta também contribui negativamente quando exalta o sucesso como um meio de vida onde vale tudo para se chegar ao topo.
Hipocrisia à parte, a corrupção está presente na vida de todos nós, seja no famoso jeitinho para nos livrar de situações adversas, ao levarmos vantagem aqui e ali e até mesmo embutida de forma tão natural que já nem nos damos conta! Muitas vezes, mesmo plenamente conscientes de nossa ação antiética, burlamos regras e até criamos justificativas bem elaboradas que nos isentam de qualquer culpa, sem, no entanto, utilizarmos este mesmo senso de moral e benevolência quando se trata de julgar o outro!
Distúrbio de comportamento ou não, a verdade é que mesmo com toda a educação de berço nem sempre fazemos o que é certo e até o mais honesto pode se deixar corromper!
Um lado obscuro convive com nossas virtudes e diante da nossa imperfeição, temos que procurar manter um equilíbrio aceitável e saudável dentro de nossas próprias permissões e valores para que nosso bem estar seja preservado. Diante de cada escolha, temos sempre a chance de fazer o que é certo, e ao conservarmos o respeito mútuo estaremos também contribuindo para uma sociedade mais pacífica.
Porém, diante das mais variadas decisões, arriscar-se na própria vida é opção de cada um, mas quando o indivíduo que representa o coletivo se vale de suborno, está arriscando também o bem estar da maioria além de desdenhar de todos os princípios éticos! Embora muitos destes se apóiem na justificativa de que existem coisas bem piores, o fato é que isto se torna uma raiz que dissemina a injustiça além de uma violação aos direitos humanos, um crime tão hediondo como tantos outros e digno de punição sem privilégios!
Não raro, em prol da ganância e do egoísmo, muitos destes permitem que seus próprios valores sejam corrompidos e colaboram para afrouxar a mesma lei e justiça que ajudaram a impor, passando a teme-la por suas próprias probabilidades.
Existe uma estreita ligação entre poder e corrupção e para quem se dispõe a lutar contra esta corrente do mal, além do comprometimento com a moral, a cidadania e a honestidade, é preciso consciência de sua própria resistência para não se tornar parte daquilo que almeja combater!
E não basta apenas experiência e bagagem intelectual, é preciso também aprendizagem como ser humano íntegro a ponto de ser plenamente capaz de colocar acima de seus próprios interesses o bem estar da maioria.
Felizmente, a luta de pessoas de valor vêm contribuindo para a transparência dos governos evitando que esta epidemia avance livremente, unindo esforços para que a nossa cultura política possa ser reformulada de forma relevante para se tornar uma nação mais digna e justa!
Mas é preciso também que a sociedade faça sua parte, pois os que se deixam seduzir com falsas promessas e vantagens pessoais acabam coniventes com aqueles que em meio à disputa pelo poder querem apenas abocanhar sua fatia de privilégios sem se importar em se aproveitar da ignorância alheia para depois esbanjar diante da sociedade faminta e reduzir oportunidades a grupos privilegiados.
É importante que pessoas mais esclarecidas sejam um instrumento de conscientização e mudança de mentalidade para que a sociedade saia da ignorância política e obtenha um melhor discernimento!
A libertinagem que atinge o poder e fragiliza estruturas diversas da sociedade precisa ser controlada, portanto, é preciso analisar discursos para não absorvermos como verdade absoluta o que vem de outra mente para a nossa, afinal, as palavras têm um alto poder de sedução e qualquer um munido de tal dom pode provocar uma euforia em massa tanto para o bem quanto para o mal, e nisto há muitos exemplos na história da humanidade...
E se pensarmos que o pouco que podemos fazer nada deve significar, devemos supor que os que se deixam corromper também pensam como tal e no conjunto o desfalque à sociedade se torna expressivo! Portanto temos que nos interessar pelo tema e reunir propósitos para que haja um significativo impulso na construção de um futuro com um padrão de conduta elogiável em detrimento a indecente cultura desta corrupção que impera até mesmo onde a justiça deveria reinar soberana!
Temos que acreditar que o cenário negativo da política em nossa nação possa ser mudado com trabalho no esforço da educação e da ética.
É ilusório acreditar que toda a corrupção será banida, mas se a união pode fazer a força para o bem, a omissão é uma resistência oposta a qual não podemos ajudar a sustentar, portanto, cabe a cada um se avaliar e encontrar um meio de fazer a sua parte!
"Ninguém comete erro maior do que não fazer nada porque só pode fazer um pouco". (E. Burke)
"O presente que se faz em segredo acalma a ira, e o suborno oferecido às ocultas apazigua a maior fúria". (Prov. 21.14)
"O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam". (A. Toynbee)
Silvana Lance Anaya
Psicanalista
www.clinicapsicabc.com.br
Ok
Avaliação: 5 | Votos: 32
Silvana Lance é Psicanalista e Psicoterapeuta Especialista em Psicodrama Clínico - Pós-Graduada em Teoria Psicanalítica, membro fundadora da SODHEP - Soc. Desenv. Humano e Estudos Psicanalíticos - / Jornalista Mtb 75200/SP atendimento: consultório particular/SBCampo www.clinicapsicabc.com.br - facebook.com/clinicapsicabc E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |