NOSSOS DEUSES EGÓICOS
Autor João Carvalho Neto
Assunto PsicologiaAtualizado em 2/19/2013 7:11:05 AM
Em nosso grupo de estudos sobre Psicanálise Transpessoal, que acontece na sede do Elaboração Terapias e Cursos toda segunda sexta-feira de cada mês, acabamos de fazer uma releitura do texto “O futuro de uma ilusão” escrito por Freud em 1927. Apesar de, sob a ótica da transpessoalidade, termos avançado para compreensões mais largas do assunto, não posso deixar de considerar as profundas reflexões a que a abordagem freudiana voltou a me remeter. Digo voltou porque o texto já me era conhecido, mas perdido entre outras tantas leituras. Freud vai questionar, nas conclusões de sua extensa construção, até que ponto as religiões têm sido importantes para a melhoria do ser humano, ou se uma compreensão mais psicológica da realidade e menos dogmática não teria feito mais pela qualidade de vida e das inter-relações pessoais. Mas não posso deixar de reconhecer ser curioso que, em um mundo onde mais de 90% da população assume alguma postura religiosa, exista tanta miséria campeando ao redor de pregadores e fiéis; onde crianças morrem de fome, onde políticos corruptos tiram o direito à dignidade de vida estiolando o patrimônio público; onde nações lutam em guerras fratricidas por disputas dessas mesmas religiões que pregam o amor, solidariedade e caridade. Convenhamos... alguma coisa tem estado errada. Por que nossas convicções religiosas não são suficientes para mudarmos esses padrões de injustiça e violência? Ah...! culpa-se o ser humano que não consegue se adequar aos princípios básicos de convivência social. Mas por que essa sociedade não possui estruturas educacionais suficientemente eficientes para garantir estas adaptações? Falta de interesse, falta de comprometimento, falta de amor, aspectos comportamentais que esta mesma sociedade prescreve em seus discursos religiosos. As religiões não foram importantes para favorecer o amadurecimento do homem? Penso que trouxeram sua contribuição sim, e nisso discordo da postura mais radical de Freud. Mas tenho que reconhecer que elas têm sido insuficientes para atingirmos o patamar de civilidade que o espírito humano anseia. Por isso, apesar de minha fé religiosa, também tenho fé de que este século XXI venha a ser o século da saúde mental, onde as diversas psicoterapias, especialmente as de orientação transpessoal, possam resgatar este imenso vazio deixado pelas religiões na construção do edifício de uma civilização mais solidária, mais comprometida com o bem comum, mas respeitosa dos princípios éticos e morais necessários para a sobrevivência e felicidade de todos. Tenho fé sim de que venhamos, muito mais do que nos convertermos a formalidades religiosas, nem sempre consignadas na prática, a nos curar da imensa neurose narcísica que nos mantém aprisionados a um egoísmo cruel, supervalorizando nossas necessidades em detrimento dos direitos de igualdade. Acredito que seja esse o caminho de nossa salvação, ou então a força dos deuses egóicos que somos se reverterá sobre todos, num castigo de autodestruição da nossa civilização, onde ninguém haverá de ganhar, mas todos perderemos.
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Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal" E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |
