O espelho!
Atualizado dia 06/04/2014 17:39:04 em Psicologiapor Paulo Salvio Antolini
Pois tenho observado que isso é muito pouco praticado. É muito raro. O olhar-se no espelho é para ver se a mecha de cabelo está no lugar querido, se a roupa está combinando e sem vincos desnecessários, enfim, observar coisas ao nosso redor, mas não a nós mesmos.
Olhar-se no espelho para se ver refletido aos próprios olhos, por incrível que pareça para a maioria das pessoas é muito “pesado”. Mirar em seus próprios olhos é como penetrar em sua alma e ter revelado tudo que lá possa estar.
Em momentos que, como terapeutas, pedimos ao cliente que se observe frente a um espelho e perceba o que está sentindo, o relato é de que “não tive tempo”; “não lembrei”; “me senti meio bobo”; e alguns poucos dizem: “senti uma ansiedade muito forte”; “não consegui ficar me olhando”; “parece que uma vergonha tomou conta de mim”. Um forte constrangimento se manifesta.
Interessante que todos se colocam como quem está buscando o autoconhecimento. Se o autoconhecimento é o perceber-se como realmente se é, então, não é contraditório o fato de se ter dificuldades em se olhar, começando pelo concreto, o reflexo de sua imagem física?
Exatamente. O espelho é apenas o reflexo do que se coloca frente a ele. E quando nos vemos refletidos sem a distorção da verbalização, sem a condição de justificativas e explicações, então nos assustamos. Há um grande medo pelo que poderemos ver. Daí a famosa frase “ver sem enxergar”.
Quando alguém se coloca frente ao espelho, e se fixa em sua própria imagem, está se abrindo para começar a se enxergar como realmente é. Ao “entrar” em seus próprios olhos é o vasculhar de sua vida interior, mexendo em sua existência interna, deslumbrando sentimentos e emoções adormecidas da consciência, mas não do próprio ser. Experiências já não lembradas, mas atuantes e marcantes, agindo em nossas ações, sem que se dê a elas o mérito.
Em academias, pessoas passam até horas a se admirarem frente aos espelhos. Elas dirão que esse artigo não faz sentido. Pois peço apenas que parem de olhar para seus músculos, suas coxas, cinturas e olhem diretamente para seus olhos. Fixem-se neles. Entrem dentro de si mesmos. Não precisam me dizer nada, apenas tirem suas conclusões.
Muitas vezes, o terapeuta é apenas um espelho onde o cliente obtém através de suas colocações (do terapeuta) o reflexo do que está apresentando a ele, mas nem sempre o cliente aceita o que lhe é mostrado como algo seu.
Freud apresentou a projeção como um dos mecanismos de defesa. O indivíduo vê no outro aquilo que, de fato, é seu. Apenas não identifica isso como tal. Façam um exercício de analisarem verdadeiramente o que os leva a se sentirem tão incomodados com alguns comportamentos do outro e, sem prevenções, poderão identificar que o que está irritando tanto vocês são características suas que estão sendo vistas no outro.
Olhar dentro dos próprios olhos é penetrar por um portal onde só você (e algumas raras pessoas) pode fazê-lo. Lembram-se de pessoas que quando as olham parecem que a estão desnudando? Alguns as descrevem “como se estivessem entrando na gente”.
Todos dizem querer se transformar. Mudar, lógico, para melhor. Pois façam o exercício diário: arrumem um espelho, mais ou menos de trinta centímetros de largura por quarenta centímetros de comprimento, sentem-se frente a ele por uns cinco minutos, em silêncio e olhando para dentro de seus olhos. Deixem suas mentes soltas. Façam em um local calmo e sem ninguém a observá-los, caso contrário, se sentirão expostos e não se permitirão atingir a soltura necessária. Repitam isso diariamente. Apenas cinco minutos diários. Não há desculpas, pois elas apenas fazem parte dos bloqueios que nos impedem de nos enxergarmos.
Após alguns dias, observem-se como estão, comparem-se ao antes do exercício.
Texto revisado
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