Relacionamento em crise: separar ou reconciliar?
Atualizado dia 4/7/2009 1:51:38 PM em Psicologiapor Alex Possato
As pessoas costumam dizer: o amor... afinidade, companheirismo, respeito mútuo, amizade...
Palavras bonitas, certo? Mas vazias... O que mantém duas pessoas unidas é, nada mais, nada menos, que: interesses comuns.
Está certo, não vou ser radical: existem casos em que ambos os parceiros entraram num estágio além dos interesses. Mas este tipo de amor não é tão simples: ele requer liberdade total para ambos, aceitação de todos os pontos positivos em si e no outro, independência, respeito. Esse tipo de amor exige dois seres íntegros que, juntos, formam algo maior... Acredito firmemente que isso pode ser alcançado, embora, a princípio, sempre esbarraremos nos interesses que permeiam qualquer relação.
Quando um casamento ou relação afetiva entra em crise, esse amor sublime de que falei acima não está manifestado. Ele existe, mas se esconde. E o que a crise está dizendo? Está dizendo que os interesses que havia na relação estão em conflito.
Vamos ser bem claros a respeito dos interesses? Bem, se você tem um parceiro ou parceira, o que procura nela? Sexo, prazer, segurança, conforto, carinho, proteção, incentivo, grana, força, suavidade... Acho que isso é óbvio, não? Então, porque negamos tudo isso? Ah... isso é uma longa história de mentiras que somos ensinados a acreditar para evitarmos olhar para nossas próprias necessidades. Merecemos, sim, carinho, sexo, prazer, vida estável, segurança financeira... Sim, merecemos e devemos ir atrás disso.
Mas como somos ensinados a não reconhecermos isso na frente dos outros, fingimos que não precisamos dessas coisas. Porém, inconscientemente, queremos que o parceiro ou parceira nos dêem isso que queremos. O parceiro ou parceira, do outro lado, também quer que nós supramos o que eles sentem falta. Enquanto essa troca de necessidades estiver relativamente equilibrada, o relacionamento permanece. Mas, quando isso é rompido, quer dizer, quando de um lado ou de outro deixamos de receber aquilo que recebíamos, o relacionamento estremece.
Por exemplo, quando o parceiro do qual queremos segurança financeira é demitido ou tem sua empresa falida, algo dentro de nós grita. Ou da parceira que exigimos carinho, quando nasce o primeiro filho e ela desvia a atenção para a criança, sentimos uma perda emocional tremenda.
Como essas necessidades não são faladas, muitas vezes nem reconhecidas, começam a ocorrer brigas sem nem mesmo entendermos o porquê. A crise pode provocar o rompimento da relação, a separação do casal, quando não existe mais a possibilidade de suprirmos as nossas necessidades na figura do parceiro. E vice-versa.
E devemos reconhecer: mesmo que não haja rompimento, uma relação baseada na cobrança mútua, onde exigimos que o outro nos dê aquilo que sentimos falta, está longe de manifestar o amor profundo que falei no início do nosso papo.
A reconciliação em crise de relacionamento
A separação ocorre no não reconhecimento das nossas necessidades interiores que inconscientemente jogamos na responsabilidade do outro.
E a reconciliação? É simples: começa no reconhecimento dessas necessidades. E mais: no entendimento de que somente eu posso me preencher daquilo que sinto falta. É um trabalho interior, pessoal, que passa por autoconhecimento e terapia, em alguns casos. Não porque somos loucos ou neuróticos. Mas simplesmente porque todos carregamos essas dores emocionais e temos a tendência de culpar o marido, a esposa, o papai ou a mamãe por elas. E somente nós podemos nos suprir daquilo que achamos que falta. Porque, na realidade, nada nos falta. Se o outro lado da história, o parceiro, também se trabalhar nesse aspecto, o relacionamento pode ser reconstruído. Se não, é separação na certa.
Mas quero falar na reconciliação: imagine você num relacionamento onde o seu parceiro está íntegro e honesto. Consciente das suas necessidades, qualidades e defeitos e, por isso, não joga a responsabilidade de nada sobre você. Você não precisa ser mais carinhoso, mais amoroso, mais eficiente, ganhar mais, estar mais presente. Você é bacana como é. E ao mesmo tempo, você se sente íntegro, honesto consigo mesmo: sabe que possui pontos que pode melhorar, e trabalha por isso. Consciente da sua capacidade, faz o melhor que pode a cada instante. E os dois, honestos e conscientes, buscam construir, juntos, uma relação de prazer, conquistas, desfrutar a vida que é bela e, muitas vezes, nem é vista.
Imagine que você se permite, às vezes, estar sozinho, solitário, trabalhando suas questões consigo mesmo. E permite também ao outro seus momentos de solidão. O que seria você, numa relação onde, nem sempre, precisaria estar presente na família, e poderia curtir seus próprios amigos? E também permitisse ao outro a mesma coisa? E juntos, curtissem algo que ambos gostam muito de fazer?
Esse tipo de relacionamento é possível. Esse tipo de relacionamento se constrói. Desde que ambos os lados permitam-se ser honestos. Em primeiro lugar, honestos consigo mesmo.
Alex Possato é professor de constelação familiar sistêmica e terapeuta sistêmico. clique aqui e saiba mais
Texto revisado por Cris
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Terapeuta sistêmico e trainer de cursos de formação em constelação familiar sistêmica E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |