Saber perder
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Autor Katia Santos Julio
Assunto PsicologiaAtualizado em 31/12/2010 02:19:45
A pessoa que sabe perder não é aquela que simplesmente fala: “ok, perdi e bola pra
frente”.Mas é aquela que não se esconde após a perda ou enquanto perde. É aquela pessoa que permanece ao lado daqueles que tiveram um bom desempenho, aquele desempenho que eu ou você gostaria de ter tido mas não tivemos, porque as circunstâncias não nos favoreceram ou porque não nos esforçamos o suficiente.
Gostaria de ter aprendido isso antes mas o tempo certo foi agora.
Parece que foi ontém mas não foi. Parece que foi um detalhe, algo insignificante, mas não foi. Há 17 anos atrás eu fui reprovada na 8º série.
Era uma escola boa, de alto nível onde eu estudei desde a 1º série, até aquele ano, 1993.
Eu sempre tive fama de ser uma aluna comportada, que falava pouco, a “quietinha”, porém com um defeito: o medo de perguntar, de tirar dúvidas. E quando fui reprovada, tive minha parcela de culpa é claro.
A escola, como toda escola de bom nível, exigia muito e eu não tinha muita disposição para ficar horas e horas estudando. Primeiro porque não tenho esse perfil e segundo porque eu estava vivendo um momento em que me sentia revoltada com algumas coisas que aconteciam na minha vida particular.
No entanto até a 7º série eu consegui passar e na 8º série achei que pelo menos iria ter chance a uma recuperação, confiando no conselho de classe. Mas infelizmente eu repeti direto e chorei muito.
Pois bem, o detalhe que mudaria a minha vida a partir daquele momento não foi a reprovação em si, mas o que fiz com ela.
Fiz muitas amizades durante o período em que permaneci nessa escola e quando fui reprovada uma amiga me consolou.
Dias depois haveria a colação de grau dos meus amigos que passaram e aquela amiga que me consolou pediu para eu fosse vê-los e eu não fui porque sentia muita vergonha.
Me matriculei em outra escola, uma das piores que tinha no bairro e minha amiga tentou entrar em contato comigo várias vezes, mas só dei retorno uma vez e depois perdi o contato. Achava que não tinha que continuar tento vínculo com aquelas pessoas que fizeram parte da minha história só porque eu fui reprovada. Estava decidida a recomeçar e seguir em frente com outra turma enterrando o passado como se ele pudesse ser apagado.
A vida, misteriosa como sempre, me guiou por caminhos desconhecidos onde conheci o abandono, o desprezo por falta de dinheiro - coisa que antes não ocorria - e a frustração profissional onde eu aprendi que aceitar as perdas é mais do que aceitar o término de um relacionamento ou a perda de um bem. É entender que o momento não é favorável e que nem sempre é a nossa vez de jogar.
Então me lembrei do tesouro que eu tinha em termos de boa oportunidade de estudo e bons amigos, parte importante da minha história de vida e que cheguei a esquecer. E nesse ano de 2010, vivi uma situação semelhante a 1993, dessa vez no meu trabalho ou naquilo que eu considerava como meu. Porque quando eu achei que tudo estava ganho e que eu permaneceria longos anos na mesma empresa, fui dispensada.
Pensando no ano de 1993, finalmente enxerguei que muito do sofrimento vivido nos últimos anos estava ligado ao tratamento que dei àquela reprovação. Agi com falta de humildade e reprovei a mim mesma.
Sim, eu reprovei a mim mesma, porque os meus amigos, aqueles que estudaram comigo nunca me reprovaram. E a reprovação da escola não quer dizer nada porque não mede a verdadeira capacidade da pessoa.
Mas uma coisa eu aprendi: saber perder!
No início do mês fui convidada para a festa de confraternização da empresa que eu trabalhava, e eu fui.
Sei que não posso apagar a minha ausência na colação de grau dos meus amigos, mas pude estar presente em outra festa bastante significativa para minha vida.
Ainda bem que deu tempo de aprender!
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