Ser bom não é ser bobo
Atualizado dia 9/22/2013 7:02:45 PM em Psicologiapor Antony Valentim
É líquida e certa a necessidade que temos de suportar dores, tolerar impropérios, sofrer com as mazelas, necessidades e carências das pessoas que convivem conosco, seja no lar (primeira escola da vida), entre enamorados, noivos, casados, no trabalho - diante de funcionários difíceis ou chefes irascíveis - entre os amigos e no meio social que vivemos e com tudo isso, nos aperfeiçoarmos como seres humanos em busca de uma condição moral mais valorosa. Indispensável ter a paciência, a resignação, renunciar clamores pessoais da vaidade, do orgulho e de todas as fraquezas características de um mundo de provas e expiações. Tanto quanto suportarmos o mundo com o desapego do ego, agindo na obra do bem e abraçando as oportunidades de regeneração de nós mesmos, mais estaremos angariando recursos para vencermos as grandes batalhas da vida.
Mas é inexorável a necessidade que temos de não adotarmos essa postura diante da maldade gratuita ou dos que pretendem aproveitar-se de nossa bondade para cometerem perversos abusos, sejam de ordem física, moral, judicial ou de qualquer natureza.
O problema é que diante da bondade, a primeira tendência dos maus é considerar que o interesse das pessoas em se tornarem melhores, é um interesse insincero, crendo que ninguém é capaz de ser tão bom se não houver por trás disso uma intenção que o beneficie de alguma forma. A segunda tendência é a de se aproveitar da bondade alheia, levando ao extremo a resistência do outro. E sentem-se de certo modo seguros, porque sabem que os princípios da bondade e da fraternidade sempre falarão mais alto no coração de quem assumiu o papel de agir no bem.
Esse é o equívoco na conduta dos bons, que acabam por dispensar a previdência e não raro, tornam-se joguetes nas mãos dos aproveitadores perniciosos. Não há nenhum erro se fazem isso conscientemente e para atender a alguma necessidade da alma; o problema surge quando começa a existir a violência MORAL, uma das piores e mais absurdas violências, principalmente quando se manifesta com sutileza e delicadeza.
É preciso que saibamos nos guardar da devastação gratuita, mesmo que os maus considerem que sempre seremos bobos apenas porque nos dispomos a sermos bons; mas ser bom não significa ser bobo. Vou mais além: ser bom não significa ser parvo; ser bom é sim uma virtude que alguns parvos não compreendem.
Muitas obras espíritas mostram a necessidade da ação enérgica e severa dos bons, para que os maus compreendam que a bondade não é um sinal de fraqueza, um atestado de fragilidade ou uma demonstração de capacidade debilitada frente aos pseudo-poderosos. Os verdadeiros bons, lutam, não para ganharem a guerra, mas para conquistarem a paz que os insanos tripudiam.
A bondade deveria ser entendida como o altruísmo de dedicar uma parte de nós mesmos, de nosso tempo e recursos, para a sociedade, uma causa, um ideal ou uma pessoa. Mas para os desprovidos dos princípios elevados e do entendimento de que a vida é uma troca - recebemos o que damos - ser bom significa ser passível de ser enganado por alguém que utiliza – consciente ou inconscientemente – nossa boa vontade em benefício de si mesmo.
No capítulo 9 da obra "Nosso Lar", ditada por André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier, diante de rebeliões e comportamentos inferiores recalcitrantes, o governador da famosa cidade espiritual "proibiu temporariamente os auxílios às regiões inferiores, e, pela primeira vez na sua administração, mandou ligar as baterias elétricas das muralhas da cidade, para emissão de dardos magnéticos a serviço da defesa comum."
Na obra seguinte, "Os Mensageiros", teremos no capítulo 20 intitulado "Defesas contra o Mal", Alfredo, administrador de grande fortificação do bem, diante do espanto de André Luiz ao verificar um verdadeiro arsenal de guerra na instalação crítica, cita:
"Naturalmente, não imaginavam necessárias tantas fortificações. Conforme vêem, nossa bandeira é de concórdia e harmonia; no entanto, é imprescindível considerar que estamos em serviço que precisaremos defender, em qualquer circunstância. Enquanto não imperar a lei universal do amor, é indispensável persevere o reinado da justiça. Nosso Posto está colocado, aqui, igualmente, como “ovelha em meio de lobos” e, embora não nos caiba efetuar o extermínio das feras, necessitamos defender a obra do bem contra os assaltos indébitos. As organizações dos nossos irmãos consagrados ao mal são vastíssimas. Não admitam a hipótese de serem, todos eles, ignorantes ou inconscientes. A maioria se constitui de perversos e criminosos. São entidades verdadeiramente diabólicas. Não tenham disso qualquer dúvida".
Na Terra, temos pessoas com semelhança de idéias e princípios, diabólicos e conscientes adoradores do ego que não perdem a oportunidade de se aproveitarem dos que são legitimamente bons, ou dos que buscam se melhorar a cada dia. Querem dominar as pessoas "boas" antes de se dominarem, exigem retorno antes de doar à vida, e entram em inútil conflito com as leis do Pai Celestial. Daí a importância de nos mantermos no caminho do bem -mas sem sermos bobos- fugindo às aquiescências para os perversos.
Ainda na obra "Os Mensageiros", o instrutor Alfredo continua:
"Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-lhe o assalto. Mas um santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais confiado no Senhor que em si mesmo. A serpente o atacou, desrespeitosa. Ele dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou: – Minha irmã, é da lei que não façamos mal a ninguém. A víbora recolheu-se, envergonhada. Continuou o sábio o seu caminho e a serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela. Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças davam-lhe pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada.
Vivia aflita, medrosa, desanimada. Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente contou-lhe, então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável e carinhosa, mas as criaturas perseguiam-na e apedrejavam-na. O sábio pensou, pensou e respondeu após ouvi-la: – Mas, minha irmã, houve engano de tua parte. Aconselhei-te a não morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te disse que evitasses de assustar os maus. Não ataques as criaturas de Deus, nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na obra do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso a distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos".
Defendamos nossa cooperação no bem, ATÉ O FIM!
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Antony Valentim é um ser comum, sem privilégios ou destaques que o diferenciem das demais pessoas. Devorador de livros, admirador de culturas religiosas sem preconceitos, e eterno aprendiz do Cristo. Mestre de nada, sábio de coisa alguma. Alguém como você, que chora, sorri, busca, luta, exercita a fé e cultiva no peito a doce flor da esperança. E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |