Teimosia!
Atualizado dia 13/05/2013 07:55:24 em Psicologiapor Paulo Salvio Antolini
O pai ligou, então, para o filho, que lhe "ensinou" o macete que fazia funcionar o carro, o que me levou a crer que ele já sabia da existência do problema, sem ter tomado, ao que tudo indica, nenhuma providência no sentido de resolver definitivamente a questão.
Tenho acompanhado essa "jornada" de ambos, por estar muito próximo a eles. É incontável o número de vezes que discutiram e sempre pelo mesmo motivo: não consertar o carro. E os dois mantendo sempre a mesma posição: o filho protelando o conserto definitivo e usando de paliativos, e o pai sempre dizendo que é a responsabilidade pelo conserto é do filho, mas ignorando o fato de que ao menos duas vezes na semana usa o veículo para entregas que, normalmente, são feitas fora da cidade.
Por várias vezes sugeri ao pai que mandasse arrumar o que fosse necessário e que, assim, parassem com esse jogo de empurra-empurra.
Teimosia significa qualidade do que é teimoso. Teima excessiva; repetida obstinação. Tudo o que é dito não é escutado, portanto, não é ponderado. E eis que desta última vez o inevitável aconteceu: ele ficou na mão e o "arranjo" não funcionou.
Por sorte, o estrago aconteceu já na entrada da cidade e rapidamente conseguimos um veículo para nos rebocar até a oficina. Sorte? Talvez, pois havíamos rodado mais de trezentos quilômetros naquele dia e estávamos voltando. A quebra em outro local nos causaria um grande transtorno, além de uma alta despesa financeira.
Por incrível que possa parecer, quando sugeri ao meu amigo, pai do dono do veículo, que já providenciasse o conserto necessário e definitivo, ouvi a resposta: "Mas o carro é dele".
É importante citar que a questão não era quem iria bancar financeiramente o conserto, já que quem assume tal papel é a empresa. O problema está justamente na teimosia de ambos, em disputar quem deve fazer o quê.
Olhemos para nossas vidas e perceberemos que, em muitas situações, estamos agindo com a mesma obstinação e teimosia citadas acima, o quanto estamos nos negando a escutar o que estão nos dizendo, mas insistimos em manter a nossa posição.
O que faz com que uma pessoa "trave" em uma determinada postura e não se permita, de forma alguma, olhar as situações de maneira mais ampla e flexível? Um dos grandes motivos é por sentir-se ameaçada. Não pode "abrir" possibilidades, senão tudo dentro dela desmorona. A pessoa construiu um espaço mental interior onde os raciocínios se sobrepõem, sem que haja uma harmonia de aproximação dos conceitos. É como se tivessem assentado os tijolos todos tortos na base de uma obra. Toda a parede ficaria irregular, tornando-se vulnerável e sem segurança alguma.
A teimosia faz com que as pessoas repitam seus comportamentos, não se dando chances para se modificarem e, assim, obterem também resultados diferentes. No exemplo inicial, não importa se quem mandou arrumar o veículo foi o pai ou o filho, mas sim que, estando o veículo em boas condições, ambos estarão mais seguros nas suas viagens. Cada um tem uma aptidão e um interesse maior, então só resta somá-los e todos ganharão.
Como está difícil, nos tempos atuais, somar aptidões, somar talentos! É como se as pessoas temessem ser exploradas ao permitir que o outro se beneficie com uma atitude sua e que elas nada ganhem com isso.
Teimosia, reflexo de auto-afirmação, onde o compartilhar e o conviver com as diferenças ficam cada vez mais distantes. Mora nela muito dos relacionamentos desfeitos, empresas falidas ou fragmentadas, não realizações de contextos que a vida havia oferecido a fim de que desse certo, mas o ser humano impediu.
Texto revisado
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