Um Gambá vai para o céu!
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Autor Cássia Marina Moreira
Assunto PsicologiaAtualizado em 15/09/2010 20:56:55
Conheci Rafael assim que coloquei os pés na piscina. Ele e seus dois irmãos eram capazes de agitar o pequeno espaço entre ao mar de Maranduba com suas pranchas de surfe e a piscina do Hotel Porto do Eixo, sentados sobre os espaguetes que rapidamente eram transformados em poderosos cavalos marinhos para assim vencerem a dura batalha de atravessar para a parte mais funda.
E então era a vez do mar bravio, próprio para o surfe, e com as duas pranchas bem maiores que eles, cruzavam o gramado até a praia onde o pai e herói os aguardava para praticarem surfe. E mais uma vez de volta a água doce e gélida da piscina para disputarem a máscara rosa de Ana Clara.
Mas como isso cansa, sumiram todos, talvez para quadra agitar as redes de tênis jogando frescobol; bom - silêncio por alguns momentos foi quando pude desfrutar do livro que estava lendo. Maravilha deu para curtir.
Logo comecei a ouvir um zum zum zum das vozezinhas dos três, parecia algo muito sério, que havia chocado Rafael e queria muito que seu irmão caçula Mateus e sua mãe fossem até para ver, e identificar o que seria aquele bicho morto.
Soube assim que voltaram de lá ele contava agora em voz alta para os irmãos como havia acontecido o fato. ..."a bolinha cauí bem daquele lado, e eu fui até lá, ela estava bem ao lado do gambá morto. Com aquele buraco com sangue na perna"...
Mesmo as melhores leituras como de Isabel Allende perdem para uma conversinha destas, entre uma e outra optei em ouvir a história de Rafael, indignado com a morte do gambá, mas muito mais chocado com o fato do bichinho estar jogado por lá. Isto era o mais difícil para ele nesta história.
Uma trégua foi decretada, hora do descanso, sumiram os três, sai da piscina em busca de água e encontrei Rafael vestido para ir almoçar, perguntei a ele sobre o bicho, prontamente me contou, primeiro - vejam vocês - de sua indignação, pois o gambá estava largado lá com as moscas verdes por cima dele. E só então da morte propriamente dita e de como o havia encontrado. Pedi que mostrasse o lugar, lá fomos nós dois até a quadra de tênis. Precisamos enterrá-lo, disse a ele. Ao que prontamente me respondeu com um alivio de alma:- "que bom! assim ele vai para o céu e não para um lixão qualquer".
Concordei imediatamente com ele, e propus a ele que fossemos conversar com Jaguar - o jardineiro do hotel. Que nos recebeu prontamente; e pediu apenas para que aguardássemos o final de seu almoço. Combinamos que ele procuraria por nós para que pudéssemos acompanhar o enterro.
Os pais de Rafael quando souberam da nossa proposta conversaram com o filho para que ele não fosse, uma vez que poderia ficar triste e chorar ao presenciar tal coisa. Quando o menino de sete anos veio ao meu encontro para dizer o que os pais haviam dito, perguntei se seria seu primeiro enterro; ele foi categórico ao dizer que o primeiro havia perdido. O da cachorrinha que tristemente foi atropelada na frente de casa.
Falou-me seriamente que embora seus pais tenham ficado com medo do sofrimento e possível choro dele, estava mesmo disposto a acompanhar o gambá até sua ultima morada. Então fomos juntos catar algumas pedras para marcar a sepultura do gambá, uma marca solene do lugar. Para que quando voltarmos aqui sabermos exatamente onde irá estar.
Começamos com apenas uma pedra, depois propus que fossem nove. Uma vez que o gambá havia concluído seu ciclo, e o número nove representa exatamente isso, fim de ciclo. Rafael achou que seriam poucas, pois pelo tamanho do gambá a sepultura seria grande, passamos a fazer as contas - no que o garoto é muito bom, até que chegamos ao número dezoito. Muitas pedras que dão para fazer um círculo em volta do buraco e que a soma é o resultado do número nove.
Resolvido isto, aguardamos Jaguar nos chamar e fomos todos nós a procura de um novo lugar para colocar o bicho. Onde havíamos pensado o jardineiro experiente nos disse que não poderia ser. Existem canos passando por lá, e ele não poderia cavar fundo, como requer uma sepultura.
Rapidamente Rafael me disse, teremos que trazer as pedras que escolhemos depois. Assim o jardineiro nos levou a um lugar onde enterramos e pudemos colocar as pedras sobre o gambá. Ana Clara se juntou a nós e nos ajudou com uma ou duas pedras que ela mesma escolheu e para que a conta não ficasse com outro número concordamos que não levaríamos todas as nossas pedras para lá, para que as dela pudessem ser colocadas e documentamos isto com a máquina do celular.
Como um toque final resolveu-se que ficaria um pouco mais vistoso o lugar cataríamos algumas sementes de mulungu que são vermelhinhas para colocar por lá, marcando definitivamente o local do enterro do gambá. Rafael e os irmãos se encarregaram de fazer esta parte. E deram aquele jeitinho, que só os filhos pequenos têm para que a mãe pelo menos fosse ver onde o gambá esta enterrado.
Depois disso a página parece ter sido definitivamente virada ninguém sonhou ou chorou no enterro do gambá; e a bem da verdade pelos cálculos mirabolantes de Rafael agora o gambá já esta no céu, sem ter tido nenhum problema na porta na hora de entrar.
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Cássia Marina Moreira Psicóloga / Terapeuta Floral - Vibracional Pesquisadora do Sistema das Essências Vibracionais D´Água E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |