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VALE A PENA FAZER O BEM?

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Autor Antony Valentim

Assunto Psicologia
Atualizado em 4/13/2014 7:47:29 AM


É uma pessoa comum, sem muitos atrativos. Vive um cotidiano convencional. Vive do próprio trabalho e se sustenta no esforço pessoal para vencer os passos da caminhada, dia a dia. Não tem grandes pretensões na vida, nem sente qualquer necessidade de ser melhor que alguém. Busca apenas cumprir os deveres cotidianos enfrentando todas as limitações intimas que possui. Ora momentos depressivos, ora desafios motivadores, segue a vida com suas venturas e suas tribulações. Sabe que “perfeito” é apenas um “pseudo predicado” quando associado à “pessoas”, principalmente a ele mesmo.

As vezes, andando pela rua, se depara com uma mão estendida pedindo uma esmola. Sabe que se der o dinheiro, o mesmo pode ser usado para fins escusos ou menos dignos. Mas da.

Outras vezes se depara com idosos na fila do caixa eletrônico com extrema dificuldade de operar o sistema, irritando as pessoas que aguardam. Sabe que se for até lá tentar ajudar, pode ser taxado de aproveitador e temido por ser visto como um estranho a tentar lesar. Mas vai, e ajuda. E ouve histórias. E ouve lamentos.

No caminho para casa todas as noites ao voltar da escola, passa por escura rua conhecida como ponto de prostituição da região. Cruza o caminho de mulheres que vendem o corpo para viver. Sente pena ao ver corpos semi nus em meio ao frio, e faces angustiosas em meio ao aparente olhar sensual. Mulheres que talvez estejam dominadas pelo desejo, ou quem sabe pensando nos filhos deixados em casa e no dinheiro que precisam ganhar, ou quem sabe pensem na própria fome que naquele momento pode estar a lancinante. Sabe que se for visto por algum conhecido com elas, pode ser confundido com um cliente a cortejar as moças em troca de sexo, desejando ter com elas o envolvimento a que se propõem. Mesmo assim, para, cumprimenta, troca algumas poucas palavras com naturalidade e descontração, e segue seu caminho. Se tem na mochila alguma fruta ou biscoito, oferece. Na maioria das vezes recusam.

Aos finais de semana, no sábado à noite, gosta de comer um cachorro quente numa praça próxima à sua casa, num daqueles carrinhos de pouco movimento, onde uma senhora com seus 60 ou 65 anos se fixa ali há anos. O sabor é bom, embora as condições visuais denunciem grande precariedade de recursos. Tudo simples demais, mas limpo e gostoso. Vai até a senhora, faz seu lanche, pede um segundo cachorro quente para levar, e permanece um tempo mais ali, mesmo sem nenhuma necessidade, conversando com ela até a hora em que ela arruma suas coisas e vai embora. Já planeja ir naquele horário com esse objetivo: ficar até o final. Ele sabe que não precisa nem mesmo comer ali, mas permanece até o final daquele “expediente” apenas para ajudá-la a empurrar o carrinho numa pequena rua de aclive acentuado. Cumprido aquele pequeno trajeto, deixa-a ir, desaparecendo entre as ruas.

Chegando na vila em que mora, na direção de casa, sempre se depara com um cachorro vira-latas amarrado à uma pequena corda na porta de uma casa, talvez colocado para fora pelos humildes moradores que não permitem ao cão dormir dentro da residência. Alí, em meio ao frio da noite e com apenas um pequeno tapete para se acomodar e uma vasilha de água, demonstra docilidade para com aquele homem que sempre faz questão de parar, afagar sua cabeça, e deixar ali o segundo cachorro quente comprado naquele carrinho de onde vem. Faz isso quase todos os sábados. Sabe que tem muita gente passando fome, e que poderia ser visto com reprimenda diante do ato com o animal, mas mesmo assim fazia questão de não interromper aquela rotina por acreditar que estamos para os animais como os anjos estão para conosco.

Vê crianças de rua nas esquinas, e conversa com elas. Não com dengo, como se fossem bebês, mas como se fossem inteligentes o suficiente para compreender o teor de uma conversa lógica. Para, pergunta de onde vem, o que fazem, e ouve os mais inacreditáveis absurdos para os padrões convencionais. Não julga nem reprime nenhuma delas. Apenas ouve, faz questionamentos amorosos, sorri, as vezes dá algum trocado, distribui palavras de estímulo, e segue seu caminho. Muitos comentam que é um pedófilo interessado em aliciar crianças. Alguns até fazem piadas diante dele sobre o tema. E mesmo assim ele continua a distribuir atenção e a se interessar por aqueles seres recém chegados à vida.

Como pega o mesmo ônibus na maioria das vezes no ponto final, senta quase que propositalmente na frente, para dar lugar à um senhor idoso que entra no veículo mais adiante quando já esta lotado. E se levanta para ceder seu lugar. As vezes o cansaço extremo lhe toma com um sono invencível e ele nem nota que o Sr entrou no ônibus. Nessas horas é visto como egoísta, tomador de lugares preferenciais, e nem sempre acorda a tempo para fazer a cessão do lugar. Algumas vezes recebe críticas de outros idosos assentados, mesmo sabendo estes que na maioria dos dias ele cede seu lugar. E mesmo diante disso, não muda a rotina e permane disposto a continuar guardando o lugar daquele senhor – ou pelo menos tentando.

Anonimamente, e sem alardes, numa naturalidade sem mácula, observa as pessoas, e sempre procura ajudar de algum modo. Não tira fotos e posta no facebook, nem conta histórias inspiradoras na internet sobre as oportunidades de ajudar que encontra. Apenas se conecta com aquela outra pessoa que encontra no caminho, e faz o pouco que pode naquela circunstância, sem desejar ser herói, sem buscar ser aclamado, e menos ainda se comparar a algum ser iluminado que veio à Terra na história dos tempos para inspirar pessoas.

Encontrou sim pelo caminho muitas pessoas que se aproveitavam de sua simpatia e bondade, e muitas vezes foi ferido por elas, se tornando alvo de chacotas ou de repreensões que tentavam induzi-lo a crer que cada um tem o que merece e que não devemos nos envolver nos problemas ou na vida de estranhos. Ou então, recebia golpes verbais ou mentais violentos quando interrompia uma de suas rotinas não podendo realizá-las por qualquer motivo. Além disso, muitos o condenam quando resvala em queda, com pensamentos do tipo “se faz de santo em algumas coisas, e cai em outras; é um hipócrita”. Mas mesmo assim, mesmo com seus defeitos e limitações, continua distribuindo sorrisos, ouvindo pessoas, cumprimentando estranhos, e tomando iniciativas que de fato não vão mudar o mundo.

Tanta doação mina seus recursos: sua energia, seu dinheiro, sua vitalidade. E muitos dizem que sua vida não melhora porque é muito mão aberta, oferecido, descuidado, dá confiança demais para as pessoas, corre riscos desnecessariamente. Alguns o isolam, outros o criticam, quando não os da própria família. E mesmo assim ele mantém a atitude de doação.

E por que ele faz todas essas pequenas coisas? O que ele ganha com isso? Ele vai receber algum dinheiro por isso? Vai ganhar fama nas redes sociais? Vai criar um publico que o aplauda diante de cada uma de suas iniciativas simples? Não. Continuará vivendo sua vida anonimamente em meio à multidão. Continuará sendo criticado por dar atenção a prostitutas, por dar comida a animais; continuará recebendo a desconfiança das pessoas, quando não violentado por elas ao interromper por qualquer motivo alguma iniciativa que habitualmente tenha ou falha que cometa. Não será uma pessoa adorada, nem obterá vantagens e benefícios do mundo. Muitos inclusive, usarão contra ele suas quedas e falhas (naturais da jornada terrena) e o condenarão sem dar nenhum crédito por nada do que tenha ele feito de bom – por elas ou por outros. Isso se não for colocado entre os piores e mais desprezíveis seres da vida de alguns.

Então, para que fazer o bem? O que afinal ele ganha com isso?

A resposta, se não precisa, dificilmente encontrará refutação por quem passar pelo mesmo grau de experiência: Emoções. Ele ganha intensas e gratificantes emoções. Ele vivencia a vida das pessoas. Participa de histórias. Faz diferença nessas histórias. E experimentando as sensações indescritíveis de ser útil, atinge em si mesmo um grau mais amplo de percepção do que realmente importa na vida. Ele recebe o que o mundo não pode lhe dar. Ele angaria o que nem o maior poder da Terra pode lhe oferecer: o amor legítimo. Ele sente o amor, é envolvido pelo amor, é banhado pelo amor. Em cada experiência, de uma forma diferente. Sua maior recompensa é perceber que essas pequenas coisas são portas estreitas de gratificação e contentamento. Porque embora as coisas do mundo sejam importantes para o progresso humano, elas são apenas passageiras. Posição social, fama, dinheiro, bens, glamour e glória, são efêmeros. O que fica são os valores. O que levamos para a próxima etapa da experiência da vida são as pequenas certezas construídas em nós de que podemos encontrar o verdadeiro sentido da vida quando nos diluímos no amor, ainda que muitos de nós ainda precisemos de milênios para compreender a intensidade, o êxtase e a bem aventurança de sua melodia.

Sim, vale a pena fazer o bem. Experimente.


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Conteúdo desenvolvido pelo Autor Antony Valentim   
Antony Valentim é um ser comum, sem privilégios ou destaques que o diferenciem das demais pessoas. Devorador de livros, admirador de culturas religiosas sem preconceitos, e eterno aprendiz do Cristo. Mestre de nada, sábio de coisa alguma. Alguém como você, que chora, sorri, busca, luta, exercita a fé e cultiva no peito a doce flor da esperança.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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