Voltando para casa - Entrevista
Atualizado dia 8/16/2007 10:23:28 PM em Psicologiapor Priscila Gaspar
Com certeza, a experiência de ter mais autonomia e independência faz amadurecer. O sujeito se “desprende” dos pais e pode exercer seu papel de acordo com seus próprios desejos.
2) Por que é tão difícil, uma vez tendo conquistado uma independência maior, se tornado mais dono do próprio nariz, ter que voltar a viver sob o mesmo teto que a mãe e o pai?
Os pais sempre vêem os filhos como crianças, independentemente da idade e, por outro lado, a independência faz com que se torne realmente adulto. Assim, voltar a casa dos pais parece uma regressão à infância.
3) O que representa (internamente, psicologicamente, ou até mesmo na prática) deixar a casa dos pais?
Representa a passagem da adolescência para a vida adulta, o que na nossa sociedade é cada vez mais sutil, uma vez que não dispomos de ritos de passagem como em outras culturas e também porque cada vez essa passagem ocorre mais tardiamente.
4) É natural que os filhos se incomodem em ter que voltar para a casa dos pais, sintam falta de privacidade, etc?
É o mais comum, o esperado, visto que em geral buscamos o progresso, amadurecer e ir para a frente. E passa a ser difícil abrir mão de certas conquistas, como a independência, a liberdade etc. Ser tratado como criança novamente não costuma ser agradável.
5) Mais preocupante do que se sentir incomodado em estar de volta à casa dos pais é se sentir aliviado com isso?
Existem casos em que a pessoa volta à casa dos pais e sente-se muito bem, o que parece ser puro comodismo. No entanto, isso pode ser explicado: talvez a pessoa não estivesse preparada realmente para as responsabilidades da vida adulta ou ainda pode se tratar de uma fase em que se encontra fragilizada (doença, separação – são condições delicadas nas quais a pessoa pode estar regredida emocionalmente, precisando de colo, carinho etc.). Também com relação a abrir mão de coisas: quando deixamos a casa dos pais abrimos mão de uma série de regalias e em certos momentos podemos ter o desejo de recuperar isso, ainda que se sentindo numa posição infantil.
6) Alguém que não consegue sair da casa dos pais pode ter dificuldade de crescer, não conseguir se virar sozinho?
Sim e esse fenômeno está se tornando muito comum por diversos fatores: em parte, a conjuntura econômica dificulta a independência financeira e, por outro lado, os filhos criados pela geração de “pais excessivamente permissivos” (a que se rebelou contra o autoritarismo da geração anterior), são mimados demais para abrir mão do conforto e carinho que têm em casa. Em geral, filhos criados com excesso de mimos não amadurecem e jamais conseguem decolar seu vôo. Em geral têm também dificuldade de estabelecer vínculos amorosos e acabam não se casando. Quando muito podem viver com um parceiro que substitui a figura do pai ou da mãe, mas não estabelecem vínculos maduros. É como se ninguém fosse capaz de dar o mesmo amor que recebeu dos pais.
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Priscila Gaspar é Psicanalista, Terapeuta de Regressão e Terapeuta de Casais, com especialização em Sexualidade Humana. Atende em psicoterapia individual e de casal.Contato: [email protected] E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Psicologia clicando aqui. |