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Reencontros - Caso Clínico

Atualizado dia 11/17/2007 11:21:37 AM em Vidas Passadas
por Cleide Neuza Fernandes Maia


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Sônia, linda e jovem mulher. Pele morena, cabelos negros e longos, um belo sorriso - espontâneo e cativante. Vinte e dois anos de idade, mas apesar da idade mais parecia uma pré-adolescente – insegura, indecisa, indefesa, cheia de medos. Por outro lado, uma longa história vivida e muito sofrida. Vivia uma vida modesta como marido e dois filhos.

Seus pais, apesar de muito preocupados e dedicados, limitavam-se a seus próprios anseios e não ao que a filha precisava e desejava no seu íntimo. Sônia tinha necessidade de ser ouvida, compreendida, orientada e apoiada na sua maneira de sentir e de pensar, tendo respeitada a sua individualidade. Mas mesmo assim ia vivendo e convivendo com a família entre “tapas e beijos”, como cada um dava conta.

Creio ser este ponto o mais importante na relação entre pais e filhos, o que infelizmente nem sempre se dá de uma forma saudável. Muitas vezes os pais se prendem em seus mundos, no que eles desejam e pretendem dar aos seus filhos, na forma em que foram educados e assim vão reproduzindo um modelo arcaico de educação. Enfim, muitos pais querem “criar” seus filhos sob o prisma de um modelo determinado. Aí vem o choque, vem o conflito e o grande estrago numa relação que veio para ser embuida de laços profundos de amor, amizade e companheirismo.

Mas, voltando à história de Sônia, dentro de todo o emaranhado de conflitos com os pais, o que a levava a se sentir confusa e só, era a incompatibilidade entre o pai e o marido. O marido, pessoa humilde, com valores nobres e dedicados à família. O pai, o oposto, dotado de valores materiais, dono do saber e da verdade incontestável. Ela sentia-se no centro de uma batalha: por um lado, o pai na tentativa de persuadi-la com suas armas para que ela deixasse o marido e seguisse um caminho de sucesso - do ponto de vista dele, claro. E, por outro lado, o amor que sente pela família que constituiu e pelo lar que formou como desejava.

Durante o tratamento fizemos algumas sessões de regressão e numa delas Sônia reviveu a seguinte situação: em 1835, na Europa, vê-se de saia longa e rodada, cabelos castanhos, longos e trançados. Vinte e cinco anos, casada, sem filhos e muito pobre do ponto de vista material. O marido “ganha a vida” vendendo diversas coisas na rua, como animais e utensílios domésticos. Tem problemas com ele: é “seco”, agressivo, muito ciumento, não recebe mais atenção dele e nem o necessário para sobreviver. Sente-se presa, angustiada, amarga e triste, já não gosta mais da presença dele. Quer se separar, mas ele não quer e a vigia o tempo todo.

Decide sair de casa – o que não podia fazer - e procurar o marido, pois já não suporta mais tanta falta, há dias já, até mesmo sem alimento. Percebe-se andando numa rua de terra batida, procurando-o. Não o encontra, mas aproveita a oportunidade e foge para um lugar muito distante. Encontra uma outra pessoa que a faz muito feliz. Não consegue engravidar, mas adota uma criança e forma um lar. Está sempre com medo, pois sabe que ele a persegue e vai perseguí-la sempre. Não esquece o tamanho sofrimento que viveu com ele e não consegue se envolver plenamente na nova relação. Revoltada com tudo aquilo, às vezes sente vontade de se vingar.

O marido quer encontrá-la a qualquer custo e para conseguir não mede esforços. Em suas intermináveis buscas a encontra e, cheio de ódio, quer e tenta matá-la. Ela foge novamente, mas ele não pára por aí e continua incansavelmente sua procura até encontrá-la. Para defender sua família, seu companheiro manda matá-lo. E assim termina a perseguição e o terrível desassossego. Sônia sente-se aliviada, porém com uma certa culpa. Gostaria que tivesse sido diferente. Algum tempo depois seu companheiro é tomado por uma tuberculose e morre também, ficando ela com o filho, com o qual vive uma relação de muita dedicação e carinho mútuos.

Sônia neste ponto percebe a trama da relação que vive atualmente e que a batalha permanece. O seu primeiro marido, aquele possessivo, hoje é seu pai, que ainda tenta tirá-la daquele que, naquele tempo - e hoje mais ainda - lhe oferece amor, compreensão e respeito, ou seja, do marido atual.

Sabendo disso, Sônia consegue sentir-se mais segura e passa a manter uma postura mais firme e coerente. Sabe que as intrigas e as investidas do pai para afastá-la do marido eram trazidas de outros tempos e que não era por desamor, mas por um apego ou um sentimento de posse do qual, até então, não conseguiu se libertar. Começa a agir de forma diferente mostrando ao pai valores mais nobres, o que ele até então desconhecia.

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Cleide Neuza Fernandes Maia   
Psicóloga, atua numa aboradagem psicanalítica e utiliza técnicas de hipnose e regressão.
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