Os 12 Elos Interdependentes podem tanto ser vistos como os estágios do ciclo interminável de vida e morte dos seres humanos, quanto como a dinâmica de vida e morte dos próprios estados mentais. Para facilitar nossa compreensão, iremos nos focar na forma como estes elos formam nossa cadeia de pensamentos.
No primeiro elo, falamos sobre Ignorância do apego a si mesmo: a visão errônea que temos da realidade. Este elo, que nos mantém presos à cadeia de sofrimento, só poderá ser rompido quando pudermos ter o entendimento claro da realidade: relaxar a mente no espaço absoluto da vacuidade, como dizem os mestres budistas. Isto é, quando conseguirmos ver a realidade direta dos fenômenos sem nos deixar levar pelo hábito de dar concretude às nossas projeções mentais. O sofrimento resulta em atribuirmos à realidade uma qualidade congelada, que ela verdadeiramente não tem. O apego às coisas como sendo reais e permanentes nos leva a experiências dolorosas. Você pode ler mais sobre este primeiro Elo no artigo anterior “O hábito de sofrer”. Hoje, falaremos sobre o condicionamento.
O segundo elo também é traduzido como impulso ou energia motivadora. Este elo irá nos explicar por que tantas vezes tentamos nos dizer: “não vou pensar mais negativamente”, e bingo! Lá está a nossa mente novamente sofrendo, sofrendo.
Todo pensamento surge como um gatilho que nos arremessa a outro pensamento. Isto é, cada pensamento é o resultado de uma causa kármica positiva ou negativa. Assim como explica Lama Gangchen Rinpoche em seu livro Autocura Tântrica III (Ed. Gaia): “O resultado da causa e condição do surgimento interdependente negativo de nossa ignorância são nossos atos produtores de renascimentos, que mais cedo ou mais tarde nos projetarão para um outro renascimento samsárico, superior ou inferior, feliz ou infeliz. Realizamos essas ações que causam renascimentos como um ceramista faz seus vasos. A beleza do vaso depende exclusivamente das ações do ceramista. Da mesma forma, uma vida bonita ou feia depende das ações de luz ou de sombra que criamos momento após momento do dia e da noite. Nossas ações de surgir interdependente que nos projetam fazem com que as sombras de nosso apego e raiva egoístas se desenvolvam e cresçam: a autodestruição - o oposto da autocura”.
Para cortar este karma de projeção surgido interdependentemente, temos que aprender a relaxar a mente no espaço entre os pensamentos.
Os grandes meditadores observaram em suas práticas de meditação que existe espaço entre um pensamento e outro. Isto é, há um intervalo silencioso entre cada pensamento. Mas como estamos sempre concentrados nos pensamentos em si, não nos concentramos neste espaço existente entre os pensamentos. Por exemplo, quando imaginamos dois pinheiros, nossa concentração fixa-se na imagem dos pinheiros e não do espaço entre eles!
Aqueles que se aperfeiçoam em certas práticas de meditação aprendem a não se concentrar no conteúdo dos pensamentos, mas sim no espaço entre eles. Isto é, no espaço que os liga, na pausa entre eles.
Graças a esse espaço, podemos transformar a cadeia de pensamentos de nossa mente. Se não houvesse este espaço entre os pensamentos, pensaríamos sempre a mesma coisa!
Apesar de silencioso, esse espaço é cheio de possibilidades: um campo de potencialidade pura e ilimitada. Por isso, podemos mudar as nossas idéias. Neste sentido, somos capazes de escolher a direção de nossos pensamentos, mesmo que nos pareça impossível romper a terrível cadeia de pensamentos negativos. Um pensamento negativo é seguido de outro pensamento negativo apenas porque possui um impulso de natureza semelhante em sua formação de origem.
A causa, quer dizer, a origem de uma projeção mental (o efeito) é formada pela motivação pela qual agimos com nosso corpo, palavra e mente. Isto é, não é a ação em si que irá gerar a natureza positiva ou negativa de nosso karma, mas sim a motivação com a qual agimos.
Quando nossa motivação está contaminada pela raiva, pelo apego ou pela ignorância, geramos causas para que um dia amadureçam efeitos negativos. Quando agimos com o pensamento baseado na sabedoria, na generosidade, na compaixão e no amor incondicional, geramos causas que, quando amadurecerem, terão efeitos positivos.
Neste sentido, experimentamos sofrimento ou alegria como o efeito de uma causa que criamos um dia a partir da motivação com que geramos uma ação. Não é incrível perceber que estamos - a todo momento - criando as causas de nosso futuro, ao mesmo tempo em que vivenciamos os efeitos de nossas ações passadas?
Por isso, é importante reconhecer que assim como um sofrimento tem origem em nossa mente, a partir dela é que iremos solucioná-lo.
Nossa mente está extremamente condicionada pela cultura em que vivemos, mas ainda assim podemos buscar o entendimento claro em meio à intensa confusão. Se quisermos evoluir interiormente, teremos que parar para nos auto-observar. Enquanto não o fizermos, não seremos indivíduos, mas apenas o resultado de um pensamento coletivo.
Nossa mente é obediente às ordens que lhe dermos. Todas as informações percebidas pelos sentidos são interpretadas pelo cérebro como verdades, de acordo com os padrões anteriormente registrados. Isto quer dizer que nosso cérebro interpreta como verdadeiras ou falsas as informações conforme nos as registrarmos como afirmativas. Em outras palavras, somos o resultado de nosso autocondiocionamento. Por isso, podemos mudar. Por exemplo, diante de qualquer situação podemos sempre nos perguntar: “O que tenho que fazer agora para mudar a minha mente?". A cada segundo temos uma nova chance de nos transformar e autocurar.
Deepak Chopra em seu livro “As Sete Leis Espirituais do Sucesso” (Editora Best Seller) nos aconselha: “Quando você faz uma escolha - qualquer uma - pergunte-se duas coisas: primeira, ’quais serão as conseqüências da escolha que estou fazendo’?; segunda, ’essa escolha trará felicidade a mim e aos outros ao meu redor’? A resposta à primeira questão você sentirá no seu coração e saberá imediatamente quais serão as conseqüências. Quanto à segunda questão, se a resposta for sim, então persista nessa escolha. Se for não, escolha outra coisa, é bem simples”.
Assim como certa vez Lama Zopa disse-me diretamente: “Quando você tiver dúvidas entre duas soluções, escolha a que beneficie um número maior de pessoas”.
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia. Email: [email protected] Visite o Site do Autor