Você já passou pelo pânico da sobrevivência?
por Silvia Malamud em PsicologiaAtualizado em 17/10/2024 15:33:06
Toda manhã, quando eu acordava, pensava que tudo poderia mudar para melhor se corrigisse algo de errado em mim, em minhas condutas e em meus comportamentos. Mesmo que não tivesse claro o que estava de errado, achava que talvez sendo mais cordata ou mais boazinha, quem sabe, ele poderia ficar com mais bom humor, e que na certa não ficaria tão bravo, nem tão ofendido de uma hora para outra. Mas, nada do que eu fazia dava certo e as histórias sempre acabavam se repetindo. Foram anos de sofrimento.
Embora no começo tivesse plena certeza de que estava correta e de que não havia feito nada de errado, no final e depois de tanto falatório dele, chegava a duvidar de mim mesma e das minhas convicções, esquecendo, inclusive, das minhas verdades e dos meus mais sagrados valores. Nas vezes em que eu estava nos meus maiores desesperos, quando absolutamente tudo o que eu falava não fazia eco algum nele, quando me via totalmente desamparada e incompreendida, além de acusada injustamente, nestes fatídicos momentos, ele ainda ameaçava me deixar. Encerrava a conversa dizendo que estava muito magoado e cansado de mim, alertando-me de que era eu, quem sempre criava os maiores problemas na vida dele. Sentindo-me culpada e já sem noção de mim mesma, com a minha razão e tudo o que pode ser computado como raciocínio lógico perdendo o sentido, sempre acabava cedendo e, por consequência, arrependendo-me do que supostamente havia feito. Até que novamente, num grito silencioso de esperança, traçava em minha mente novas metas de conduta imaginando que as coisas podiam melhorar, mesmo já não sabendo mais dizer o motivo pelo qual havíamos brigado...
Minha vida só começou a mudar para melhor no derradeiro momento, quando horrorizada, percebi que seria impossível ele mudar o tipo abusivo de comportamento que tinha comigo. Foi a partir daí que pude dar os primeiros passos para a separação. Parece que é só na hora que entramos num desespero maior e chegamos no fundo do poço, que surge uma força como se viesse de um vulcão adormecido nos mostrando que, sim, tudo pode e deve ser diferente. Que estamos vivos e que a vida urge pedindo passagem para existir em sua plenitude. Hora da mudança drástica e definitiva! Quem já não passou por isso? São nesses lapsos de tempo que o instinto de sobrevivência fala mais alto e ficamos incorruptíveis na decisão de não mais sucumbir ao que nos faz mal. Aparentemente, de uma hora para outra, o que aos poucos vai se delineando em nossas mentes como possibilidade de ser algo lesivo, fica extremamente claro e sem espaço algum para dúvidas. Quem já não passou por esse tipo de pânico pela sobrevivência?
Este é apenas um recorte dos infinitos cenários que podem evocar tais urgências em nome da vida.
Um alerta para que possamos dar crédito aos avisos interiores que sempre temos quando algo não vai bem. Que possamos evitar chegar neste nível de estresse emocional que ocorre quando ultrapassamos por demais os nossos limites pessoais. Por isso, quanto mais despertos, melhor!