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Isolamento sim, confinamento não

Atualizado dia 4/17/2020 9:55:47 PM em Autoconhecimento
por Marco Moura


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Confinados em um espaço restrito, impedidos do nosso ir e vir habitual, o tédio bate à nossa porta. Se temos tendências emocionais relacionadas à ansiedade, tristeza, mágoa, frustração ou qualquer outra, é muito natural que elas venham à tona. Na condição de confinamento, temos menos elementos externos para nos distrair e tudo tende a se tornar enfadonho: é tudo igual, fazemos as mesmas coisas. A internet e as redes sociais acabam se tornando um refúgio para a mente enfastiada que busca por novidade, que busca por algo vivo.

Note como a monotonia nos incomoda: algo sem brilho e sem vida. A mesmice parece se opor à nossa busca pela felicidade, parece se opor ao movimento criativo da vida de seguir em frente, desenvolver e prosperar. Faça uma experiência e sinta o poder dessas ideias em seu interior:
(1) mesmice (sinta por alguns segundos…)
(2) movimento (sinta por alguns segundos…)

Provavelmente, você tenha se sentido meio apagado com a primeira ideia e depois mais disposto. A ideia de progresso e de movimento nos atrai. Quando compulsiva, essa atração leva a nossa mente a uma atitude ansiosa, de esperar por mais, de seguir aquilo que se move e que traz esperança. Esperança por melhorias – algo que a monotonia não pode nos oferecer.

A fuga da monotonia e a busca pelo movimento expressam a nossa natureza básica. Não fosse por essa motivação que se revela até em nossos instintos, não sobreviveríamos por muito tempo. Por um mecanismo de preservação da vida, tendemos a evitar aquilo que é monótono como sendo algo nocivo. Porém, de tão certos daquilo que não queremos, acabamos por não saber lidar. Diante da inevitabilidade de situações dessa natureza, sucumbimos. Um fato básico é: nós nos tornamos reféns de tudo aquilo que evitamos encarar. Você desvia para não ter que lidar, mas ao mesmo tempo, surge o receio de encontrar com essa questão novamente. Você sabe que desviar da rota não resolve o problema, não é? Ao desviar do problema, o medo passa a te acompanhar e, junto dele, a ansiedade.

Inevitabilidade x Possibilidades

Olhemos de frente para o problema. Convide a monotonia para entrar e conversar. O que ela tem de tão repugnante? De modo objetivo, quais características a tornam insuportável? Ela é previsível, estagnada, determinada, não dada a mudanças e à interatividade. É algo fechado em si mesmo, como um looping sem fim. Novamente, é algo contrário ao movimento da vida. Ótimo, pudemos observar com clareza e objetividade.

Agora, encare o objeto que carrega a monotonia. Coisas, pessoas, comportamentos, tarefas, resultados iguais, situações de confinamento. Tudo aquilo que não sai do lugar, que fica estancado, preso e não flui. Agora olhe mais de perto: a monotonia é algo próprio disso tudo? As pessoas são inerentemente monótonas? As tarefas são inerentemente monótonas? Muito daquilo que achamos monótono não era assim no começo. Talvez, nossa mente tenha se acomodado ao lidar com esses fatores sempre do mesmo jeito, sempre de modo previsível e agindo dentro de um protocolo esperado. Talvez, nós próprios tenhamos criado um sistema condicionado.

O essencial aqui é perceber que isso tudo é criado pela mente. Por mais que existam inevitabilidades, o modo como operamos dentro disso é que torna a experiência monótona ou promissora. Pelo fato de a realidade ser moldada pelo modo como nós a encaramos, pelo fato de ser determinada pela mente, não existe solidez nas situações. A realidade não é fechada em si mesma, é aberta a possibilidades. Talvez, você tenha uma lista de tarefas a seguir ao longo do dia, mas do ponto de vista da mente, não existe determinismo nisso. Você tem o poder da escolha. Se você encarar as situações de modo fechado, não aberto a possibilidades, visualizando tudo da mesma forma, reagindo igual, prevendo os mesmos resultados, a causa da mesmice está em si mesmo, na mente que dirige esse comportamento.

Penso que a situação de isolamento social possa ser muito produtiva. Você pode aprender muito se estiver presente em si mesmo, se não encarar o problema como algo externo e sim do ponto de vista da mente que o concebe. Encare os desconfortos e aprenda sobre eles, mas do lado de dentro. Reconheça que o confinamento evidencia as suas próprias falhas, os seus próprios condicionamentos. O envolvimento com o mundo pode disfarçar o nosso modo condicionado de pensar e agir, mas quando somos nós com nós mesmos em um espaço restrito, tudo o que evitamos vem à tona. Podemos tentar escapar pela tela do smartphone, do computador ou da televisão, mas em pouco tempo, até isso se tornará monótono.

Portanto, aprendamos a encarar a solitude com uma atitude presente, consciente, leve, menos determinista. Teste um novo olhar, aborde de modo diferente, teste seu poder criativo, inove! Sei que dentro de uma mente que opera de modo condicionado, não há motivação para tentar fazer diferente. Mas encare a gravidade que é levar uma vida condicionada, pensando e agindo dentro de um mesmo padrão a vida toda. O isolamento social vem como um chacoalhão para nos mostrar como estamos levando nossas vidas. Encare a oportunidade de ouro que é poder lidar com isso aqui e agora – resolver essas questões e poder tocar a vida em frente com um novo frescor. Dê uma chance a si mesmo e descubra o poder de uma mente inerentemente livre e imune ao confinamento exterior! Explore yourself!

Marco Moura
Centro Dao de Cultura Oriental
Texto Revisado
 

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Conteúdo desenvolvido por: Marco Moura   
Marco Moura desenvolve no Centro Dao de Cultura Oriental (metrô Ana Rosa, Vila Mariana, São Paulo) atividades para o desenvolvimento integral de corpo e mente através da meditação budista, artes marciais e terapias orientais. Fisioterapeuta, faz atendimentos de Acupuntura; ministra aulas de Meditação, Chi Kung, Tai Chi Chuan e Kung Fu.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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